Felix Guisard e a época em que Taubaté esteve acima da capital do país.

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A campanha municipal de 1927 foi uma das mais emblemáticas da história taubateana. Com o surgimento do jornal oposicionista “O Libertário”, em 1924 (que tinha uma tiragem de 3000 exemplares), se contrapondo ao “O Norte”, considerado “governista”, o debate político assumiu proporções inéditas na cidade. Em pouco mais de 3 anos, a oposição, representada pela figura de Felix Guisard, terminaria com 17 anos de hegemonia política do grupo liderado por Pedro Costa. A vitória de Guisard repercutiria em todo o Brasil.
O jornal “A Capital”, de São Paulo, na edição de 03/02/1927 trataria assim o assunto (mantivemos a grafia original):

“O sr. Felix Guisard e seus amigos de Taubaté, deram a muitos prefeitos do paiz uma solemne lição de como os “gecas” sabem guardar as tradições de honestidade, caracter e brio brasileiro. Esmagou com o ex-situacionismo dos Costas, sem referir-se aos favores da União sobre os productos índustnaes das importações sem pagar direitos…
Apenas administrando, o sr. Guisard provou que hoje Taubaté está acima da própria capital do paiz: tudo em dia e com soldos a vista.
Ah! Turuna!”

A estrada de ferro Taubaté-Ubatuba

Nos fins do século XIX constituía-se o BANCO POPULAR DE TAUBATÉ.
Seu objetivo, diziam, era o de financiar a construção de uma ferrovia que, vindo de Ubatuba e passando por Taubaté, alcançasse o Sul de Minas.
Em plena euforia, as movimentações de contas no banco não paravam de crescer, proporcionando impressionantes dividendos a seus acionistas. Motivados pelo fato, vários empreendedores foram atraídos para a cidade, entre eles Felix Guisard, que fundou a CII as margens da estação da futura ferrovia. Os trabalhos de construção desta ferrovia foram iniciados sob forma auspiciosa, com festividades em Ubatuba e em Taubaté. Depois dos primeiros empreendimentos, os trilhos começaram a ser lançados. Atingiram o Cataguá, alcançaram o Registro e chegaram a Fortaleza.
Em 17/08/1893, o BPT anuncia sua falência. Com isso, a construção da ferrovia é interrompida. Vencendo a frustração que se abateu sobre a cidade, Guisard prosseguiu com sua CTI, fazendo de Taubaté um dos mais importantes pólos industriais do Brasil.

Notas e registros

Felix Guisard era um homem extremamente cuidadoso, deixando vários registros escritos de seus pensamentos. Tinha também o metódico hábito de escrever em diários, notas sobre as mais cotidianas ações de sua CTI, criando para seus sucessores verdadeiros manuais de conduta empresarial.
Neles estão registrados toda a epopeia da criação e desenvolvimento da empresa e como sua visão influenciou todo o ambiente que cercava a fábrica. Eis dois pequenos exemplos:

“Apito
Quando apitar o apito não deverá demorar mais do que o tempo que se leva para contar depressa de 1 até 20.
Combustível
O combustível é a turfa da qual poderá gastar até 3 toneladas por dia. A palha é como auxiliar, não devendo gastar por dia mais que 4 carroças. É proibido queimar óleo nas fornalhas.
Taubaté, 7 de fevereiro de 1905
Felix Guisard”

Tanto o apito como a fumaça das chaminés da CTI, acabaram por se tomar marcas registradas do crescimento e desenvolvimento de Taubaté.

Felix Guisard e Monteiro Lobato

No início de 1942, Monteiro Lobato vivia um dos períodos mais turbulentos de sua vida.
Alvejado pela ditadura de Getúlio Vargas, que havia lhe imposto um período na prisão, Lobato tinha sua obra perseguida por uma impiedosa censura.
Em profunda depressão, o escritor impôs um auto-exílio, que o trouxe, depois de mais de 20 anos, de volta a Taubaté.
Atendendo a um convite, Lobato refugia-se no Casarão do Porto, em Ubatuba, de propriedade de Felix Guisard.
Embora tivessem se encontrado diversas vezes, é somente nesta oportunidade que acontecem os primeiros diálogos entre o industrial e o escritor.
Em carta, pouco depois da morte de Guisard, Lobato relata um pouco deste evento:
“Curioso, amigo Felix (Guisard filho): seu pai, que conheci por apenas algumas horas, foi talvez a criatura que mais inspirou respeito pela espécie humana. Luminosas horas foram as que tive a honra de tratar com um varão de tantas e tão altas superioridades.
E, pois, em vez de pêsames com cheiro de cravo de defunto, receba meus parabéns por ser filho de tal homem”

O 30º Aniversário da CTI

Em 4 de maio de 1921, no seu 30º aniversário, a CTI produziu um curioso informativo que proporcionava um instantâneo de como era sua atuação naquele momento:

“A CTI tem 1660 operários, brasileiros, com mais de 14 anos de idade, aos quais proporciona especiais regalias pela Caixa Operária “CTI Club”, administrada e largamente subvencionada pela administração das fábricas(…). Os doentes tem: posto de socorro imediato, assistência médica, farmácia, dentista e auxílio pecuniário. A caixa operária prepara papeis para os casamentos. Paga os enterramentos não só dos operários como também das pessoas que, em vida, dele dependam. Proporciona divertimentos como sejam: bailes, pic-nics, futebol, bilhares, romarias, festas religiosas, jogos atléticos e retretas pela sua excelente banda de música. Semanalmente tem duas sessões cinematográficas, sendo exibidos os melhores filmes conhecidos. No palco, dois grupos de amadores representam alternadamente: dramas, comédias, danças e cantos, concorrendo poderosamente para educar e instruir o operariado. O pagamento dos salários é feito integralmente todos os sábados.

“A Cigarra” em Taubaté: O regresso do sr. Felix Guisard da Inglaterra

“A Cigarra” foi uma tradicional revista feminina brasileira. Surgida no início do século XX, circulou ininterruptamente até os anos 70. Na edição 122, de 15/10/1919, a revista dedicou várias páginas ao industrial Felix Guisard, que naquele momento, projetava-se rio cenário nacional. Eis um trecho da matéria (mantivemos a grafia da época):

Acaba de regressar a esta cidade o sr. Felix Guisard, operoso e intelligente industrial. Director-gerente das importantes fábricas de tecido da Companhia Taubaté Industrial e que, a convite da Federation British of Industries, fez parte da delegação Comercial Brasileira que foi à Inglaterra; (…) A prova mais eloquente do que acabamos de dizer tivermol-a por occasião do seu desembarque aqui: o operário, ao lado das pessoas gradas do nosso meio, queriam attestar com as suas presenças, o júbilo que invadia suas almas, por terem de novo junto a si o illustre membro da Delegação Brasileira que foi a Inglaterra honrar o nome glorioso do Brasil, e affirmar que em Taubaté, a terra dos Bandeirantes, há um homem capaz de fazer do brasileiro um industrial competente, honesto, bom e trabalhador.

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