O historiador e sua agenda: o ofício de historiador em Sérgio Buarque de Holanda

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O historiador e sua agenda: o ofício de historiador em Sérgio Buarque de Holanda

Há 110 anos nascia o paulista Sérgio Buarque de Holanda, que se radicou no Rio de Janeiro após os anos 30. Jornalista a princípio, se vê no ofício de historiador pela preocupação com as fontes históricas e os rodapés, após sua presença no Museu Paulista. Intelectual com vasta produção, no qual trabalhava com críticas literárias versus a historiografia, atribuídas a ele destacamos as obras: Raízes do Brasil, Monções, Visão do Paraíso, Capítulos de Literatura Colonial, Caminhos e Fronteiras, entre outras.

Tomei como liberdade, na coluna desta quinta-feira, falar sobre o “mito” SBH, e estudo sobre suas obras no país. Além disso, é importante ressaltar como fora visto o ofício do historiador no século XX, fazendo uma ponte com os novos desafios enfrentados pelos historiadores com a Revolução Tecnológica.

O historiador Sérgio Buarque de Holanda em 1967 (Foto: Arquivo/AE)

Partindo da ideia que o historiador é o “anão sobre os ombros de um gigante” (BURTON), não é possível a realização de um estudo, uma pesquisa, sem que antes conheçamos grande parte das produções acerca do tema que vamos abordar. A ideia é mesmo de esgotar as fontes, mesmo sabendo que as fontes não se esgotam. Seria uma contradição não é?
SBH, não escapou do dilema do historiador: o cuidado no uso das fontes, ao ver que elas não falam por si só, é necessário que a façamos falar, através dos questionamentos e análises. Quando participamos de grupos de estudos, ou mesmo disciplinas em universidades no país, em que sua ementa seja a formação do Brasil, é impossível não debater obras fundamentais produzidas por ele. A Universidade de São Paulo, no qual nos anos 50 concedeu em meio à apresentação da dissertação de SBH à Cátedra de História da Civilização Brasileira, hoje trabalha em suas disciplinas a discussão sistemática de suas obras à luz de seu tempo de elaboração.
Mais importante ainda que estudar e debater suas obras é tentar entender suas influências, que acabam mesmo que indiretamente, sendo acopladas a sua escrita. Defende-se a imparcialidade, mas a subjetividade do historiador ainda pesa.

Sergio Buarque de Holanda fotografado ao lado de Olívio Dutra e Luís Inácio Lula da Silva, na fundação do Partido dos Trabalhadores

Ao relembrar a trajetória de Sérgio, pensamos em toda a sua formação como Bacharel em Direito, trabalhos como jornalista e por fim a percepção do oficio historiográfico. A formação acadêmica, mais o encontro com Gilberto Freyre, no final dos anos 20, o contato com a intelectualidade carioca, com os modernistas, e o tempo que passou na Alemanha, foram cruciais na formação do pensamento “Buarquiano”. Sem contar ainda com sua participação na política brasileira, quando nos anos 70 do século passado, ajudou na formação do Partido dos Trabalhadores.

Dialético, SBH tinha a preocupação em suas obras da questão do nacional, como defendia os pensamentos do período e os intelectuais com quem convivia. Entendemos a preocupação da produção de Holanda como as representações de sua agenda. Agenda essa da produção das pesquisas, das obras, que são responsáveis pela temática vigente, no caso as questões que estavam em pauta nos anos 20 e 30 do século XX.
O primeiro livro publicado por ele foi Raízes do Brasil em 1936 no Rio de Janeiro, que não contava com o capitulo O Ladrilhador e o Semeador, que fala da diferença dos modelos de colonização ibérico (espanhol e o português). Vale a pena, destacar alguns pontos desta obra….

O Livro é fruto de influências visíveis que fundamentaram-se teoricamente na nova História Social Francesa e na Sociologia alemã de Marx Weber. Buscou nas representações e fatos históricos a resposta de nosso presente, como intitula o livro, uma volta às raízes, ao alicerce do país, como forma de entendimento e construção do nacional.
Particularmente, deixando a minha subjetividade falar agora, gosto muito de Monções, pois neste livro ele consegue fazer todo o trabalho de sistematização das fontes, como aprendeu com o modelo alemão, além do que ao narrar toda a “saga” do desbravamento paulista sentido Cuiabá, com as monções e o comércio de canoas (ênfase). Não esquecendo, que como bom paulista não deixava de lado o feito bandeirante como o grande desbravador do território brasileiro.
Pensando ainda sobre o as produções de historiográficas de Holanda, entendemos o país que ele viu formar, que foi ter sua primeira universidade somente nos anos 30 e que através dela avançou muito nas pesquisas, hoje disponibilizadas e ao alcance de todos, serviram como base para nossos estudos.

SBH trabalhando

Diferentemente do século passado, o historiador de hoje enfrenta outros paradigmas, vive outro momento de produção, de pesquisas, em que os olhares são múltiplos. O presente é quase que instantâneo em meio às tecnologias. Não existe comparação do ofício do historiador do passado com o dos novos tempos, pois querendo ou não ambos têm sua agenda a cumprir seja ela institucional, pessoal, ou política, a única coisa que os diferencia é o uso de técnicas, que avançou muito nos últimos anos.

Nossos agradecimentos à contribuição Buarquina para a História do Brasil, um país que ainda jovem, por vezes me parece desmemoriado.

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Giovanna Louise Nunes é graduada pela Universidade de Taubaté, Mestranda em História Social pela Universidade de São Paulo. E professora na Rede Estadual em Taubaté.

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