DNA, DVD e Taubaté. Por Renato Teixeira

8
Share

Estou sempre viajando por aí e isso já me custou algumas décadas da vida, todas elas no lombo de um avião, de uma van, de um busão… até por mares e rios se vai. A gente acostuma, inclusive as mudanças de clima e de tempero, que para principiantes é um perigo, para mim já não causam problema algum.

Nós, artistas. somos como os marinheiros, os peões de boiadeiro e os quase extintos caixeiros viajantes. Estamos em muitos lugares muitas vezes, sempre. Viajar é um aspecto cultural que está no DNA do povo taubateano desde os tempos das bandeiras, desde os tempos em que Jacques Felix veio para cá com a intenção de implantar uma frente civilizatória, com a missão de expandir as terras para cima, avançar para o norte, fundar cidades, ir, enfim.

Somos, por natureza, pioneiros. Vivo dizendo por aí que nossas celebridades são todas revolucionarias. Lobato, Mazzaropi, Hebe, Cid, Celly, todos mudaram alguma coisa substancialmente e transformaram o comportamento da nação.

Entretanto, que eu saiba, não existe nenhum estudo sobre esse aspecto da índole taubateana que, se bem analisada, poderia revelar nosso perfil social com mais eficiência, nos qualificando perante nós mesmos diante do futuro.

Eu nunca reneguei a importância concreta e inquestionável com que vejo a cidade. Para mim, ela nunca foi menor, nunca foi anterior. Taubaté é meu livro, minha escrita, minha lei. E tem sido assim desde muito antes de ter me mudado para São Paulo. Como compositor, construí uma obra totalmente ancorada nos valores herdados da cultura taubateana. Tenho dezenas de canções antropofágicas onde reavalio muitos costumes da nossa terra sem cair na pieguice de me transformar num mero contador das nossas belezas naturais que, por sinal, nem são tantas assim.

Entre as crianças do Chafariz, na praça do bairro. Foto: Angelo Rubim

Estou me programando para um mergulho profundo nessa questão taubateana que tanto me intriga com um projeto pelo qual me sinto bastante empolgado. Selecionei músicas relacionadas diretamente ao meu tempo taubateano e as influências estéticas e culturais que interferem até hoje sobre minha produção e estamos negociando a gravação de um DVD onde quero manifestar minha visão musical sociológica sobre a cidade.

Datilografar as letras, relembrar harmonias e melodias tem me proporcionado lindos momentos. Sem dúvida, as primeiras músicas que compusemos são as mais especiais. Elas não possuem a técnica que o tempo propicia, mas são de uma sinceridade comovente.

A canção “A Igreja Matriz do Padre Evaristo”, por exemplo, não alivia ninguém. Talvez porque eu tenha tido um entrevero com o padre que me pegou mentindo e me expulsou da sacristia como se eu fosse o Capeta da Cavarucanguera; revelei então um pouco dos meus pensar juvenil contestatório daquela época ao afirmar que ela, a Catedral, para mim, era mais quente por fora do que por dentro.

Minha amizade com Ney Ragasini exemplifica toda uma questão social aonde, ele e eu, vindos de uma classe social com menos poder aquisitivo, fomos aceitos e incentivados a sonhar, numa comunidade que, além de não descriminar aqueles dispostos a crescer na vida, era generosa e afetiva. “A gente então ia pra cidade soltar a fera que numa certa idade todo peito encerra”.

O meu DVD taubateano ainda gesta, mas em breve estará visível para todos. Espero com isso contribuir com minha parte para que possamos ter orgulho da nossa cidadania e assim exercê-la com mais consciência.

E viva o Almanaque Urupês!

_________

Renato Teixeira 

Texto Publicado Originalmente no Jornal Contato

Related Posts
8 Comments
Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *