Touradas em Taubaté

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As touradas surgiram na Espanha, expandiram-se para Portugal e chegaram, quem diria, a Taubaté. Leia um pouco sobre esta incrível história na crônica de Oswaldo Barbosa Guisard

Quando me fiz homem, depois de me formar em farmácia na saudosa Escola de Farmácia e Odontologia de Pindamonhangaba, não demorei muito para ganhar sertão aventurando-me numa transformação completa da minha vidinha pacata, mas insatisfeita de trabalhar no escritório da C.T.I. recebendo 19$400 réis por semana, como escriturário.

Mais de trinta anos são passados, quarenta talvez, e eu estava viajando pela sordidíssima Sorocabana de então, para Ourinhos onde faria baldeação para o Norte do Paraná. Numa estaçãozinha, próxima a Avaré, entrou um passageiro de uns cinqüenta anos, gordo, vermelho, apoplético, bastante grisalho e veio sentar-se ao meu lado. Enrolou de novo um cigarrão de palha aendeu-o, deu umas baforadas…

– O senhor não se incomoda com o cigarro? Perguntou-me.

– Não. Porque eu também gostava do bom fumo “Tietê”, “Poço Fundo”, “Goiano” e similares. Entabolamos conversa e ficou alegre quando descobriu que eu era valeparaibano, de Taubaté.

– Pois eu, sou o Antonio “Corajoso”, o toureiro de Taubaté!

Mas, deixamos o resto da conversa e vamos falar do que foram as touradas em nossa região. Assisti algumas e guardo saudosas recordações; ia quando menino acompanhado pelos maiores responsáveis, um parente, tio ou primo, o Silvino criado pela vó Nogueira. Quase sempre não pagávamos ingresso porque o toureiro cômico, caricato, era também “cria” da vovó ou do tio Jovino. Era o Arthur.

O desfile pelas ruas centrais da cidade, passando obrigatoriamente pelo Largo da Matriz, precedidos os toureiros pela banda de música era um espetáculo imponente pelo uniforme vistoso dos toureiros de cores vivas, variadas, desde os sapatos rasos, as meias geralmente brancas até os joelhos, os calções de cetim brilhantes, as camisas engomadas sob os “boleros” faiscantes, a capa pendurada sobre o ombro caindo aberta, nas mãos as “garrochas”.

Uns heróis que passavam sorridentes, bem barbeados, andando marcialmente ao som dos dobrados, e entusiasmando a garotada que os acompanhava.

Eram eles consoante o programa distribuído aos acompanhantes, transeuntes e aos moradores que vinham para as portas, janelas e calçadas; Rodriguez e Cid, famosos “pegadores” espanhóis; “Mineirinho” que saltava sobre touros, com vara; Antonio “Corajoso” o mestre da Arena; “Parafuso” o fenômeno, que acrobaticamente chegava ao cúmulo de pisar entre os chifres do touro que investia e dava um salto mortal caindo de pé atrás do animal.

Fechando o grupo vinham Lúcia, a loura toureira, impecavelmente de branco a “Estátua de Mármore”, numa plástica bonita, provocante.

E mais quem? O nosso Arthur metido num grande boneco de palha, um “João Paulino” para ser jogado aos tombos pelo touro.

“Parafuso” o negrinho espetacular, esteve na Espanha, onde se exibiu perante o grande público dos “redondeis” enfrentando vitoriosamente os famosos “Miura”. Assombrou pela coragem e pelo ineditismo de suas acrobacias.

Se fosse hoje o negrinho estaria multimilionário!


Oswaldo Barbosa Guisard (1903-1982) 

Foi executivo da CTI, vereador e presidente da Câmara. Idealista, participou do grupo fundador da Semana Monteiro Lobato e por 30 anos foi seu principal divulgador, mantendo acesa a sua chama original. Batalhou com perseverança pela preservação e tombamento da Chácara do Visconde, local onde nasceu Monteiro Lobato. Sua fabulosa memória o levou a escrever o livro “Taubaté no aflorar do século, uma grande obra. [/box]

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