Quando Rui Barbosa falou aos taubateanos

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Por Oswaldo Barbosa Guisard

Na primeira década destes cem anos, a gente taubateana viveu um dos seus grandes dias. Foi a 16 de dezembro de 1909.

Defrontavam-se em campanha eleitoral memorável, das mais agitadas da história política da República, disputando a presidência, de um lado representando o oficialismo da Nação, o Marechal Hermes da Fonseca e de outro o preclaro mestre de direito, Rui Barbosa.

Rui Barbosa

Ainda, não se haviam apagado os últimos écos dos triunfos na Conferência de Haia, do insigne paladino das nossas liberdades constitucionais, Rui Barbosa, gloriosamente considerado o mais preeminente vulto daquela assembléia de nações mais representativas da civilização mundial.

De sua atuação naquele areópago empolgando a todos os participantes, definiu-a um dos observadores do conclave, lapidarmente, com este julgamento: – “O delegado brasileiro dr. Rui Barbosa aos transpor os humbrais do Palácio de Haia, desconhecido e com seu pequeno físico, passou completamente desapercebido dos grandes tribunos que ali iam debater, e mesmo de toda a assistência”.

“Ao sair, todas as portas do grande palácio, reunidas seriam pequenas para a sua saída”.

Voltemos ao dia 16 de dezembro. Depois das paradas da comitiva que vinha em trem especial do Rio de Janeiro em várias cidades da região, às 15 horas e 27 minutos dava entrada na gare da Central do Brasil, em Taubaté, o comboio que conduzia o preclaro brasileiro. Foguetes estrugiram no ar, rompendo também uma salva de morteiros de 21 tiros. Girândolas anunciavam a chegada do ilustre candidato da oposição. O povo se comprimia na plataforma, tomando-a literalmente e espraiando-se pela praça fronteira.

Uma corporação musical executou em meio à grande emoção popular o Hino Nacional.

A seguir tomou da palavra o jovem advogado dr. Paulo de Oliveira Costa, para em nome da Câmara Municipal e do povo de Taubaté, saudar o eminente brasileiro. Em nome de Taubaté, uma senhora de nossa sociedade, fez entrega ao insigne patrício, candidato do povo paulista, que também apresentara para seu companheiro de chapa o governador dos paulistas, dr. Manoel Joaquim Albuquerque Lins, de uma artística corbelha de flores presa a um laço de fitas auriverde contendo a inscrição – “Ao eminente brasileiro dr. Rui Barbosa – Homenagem da Câmara e Povo de Taubaté”.

Taubaté viveu assim seu grande dia. Rui ao agradecer as palavras do dr. Paulo Costa foi tão eloqüente, tão extraordinários forma os arroubos de sua imaginação, e de tal entusiasmo ficou possuído, que as suas palavras brotavam em torrentes, eletrizando a enorme assistência que ali compareceu.

A multidão em delírio aclamou incessantemente o grande brasileiro até o momento da partida do trem.

Vieram as eleições em meio a uma pressão violenta do poder dominante.

Voto a descoberto, votos defuntos, atas falsas, preludiando 22, 24 e 30 que conduziu Getúlio Vargas ao poder.

Mas quanto às conseqüências foram elas como se diz na gíria… “outros 500 cruzeiros”! O ditador teve seus graves defeitos mas… teve também suas grandes virtudes.

Oswaldo Barbosa Guisard (1903-1982) 

Foi executivo da CTI, vereador e presidente da Câmara. Idealista, participou do grupo fundador da Semana Monteiro Lobato e por 30 anos foi seu principal divulgador, mantendo acesa a sua chama original. Batalhou com perseverança pela preservação e tombamento da Chácara do Visconde, local onde nasceu Monteiro Lobato. Sua fabulosa memória o levou a escrever o livro “Taubaté no aflorar do século, uma grande obra. 

 

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