O estranho mundo de Zé do Caixão, frases e afins

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Por Teteco dos Anjos

Estava eu no Rio de Janeiro, certa vez, e encontrei o físico baiano Julio Vellame. Acho que foi há três ou quatro anos atrás. Bem, não sei como nosso papo evoluiu assim, mas eu disse a ele que “baiano quando diz que Sampa é feia resulta como poesia. Por outro lado, paulista quando diz que a Bahia é feia resulta como ofensa”. Claro que disse isso a ele para provocá-lo, jogar pimenta na conversa. Juro que não penso assim. E ele, com todo seu ‘nirvana baiano’, disse calmamente…”é isso mesmo”. Chorei de rir.

Talvez, Vellame venha a ler a baboseira que escrevo aqui. Mas, ele me conhece. Sabe que sou craque em baboseiras e groselhas afins. E sabemos que sempre está tudo bem em tudo o que falo ou deixo de falar. Enfim, eu gostaria de falar que um cara que disse e diz coisas que me são interessantes e nem sempre deve ser levado a sério, no sentido pesado do vocábulo “sério”, de toneladas mesmo, é o José Mojica Marins, o Zé do Caixão.

“A vida é o princípio da morte e a morte é o fim da vida”, é uma frase belíssima, de tamanha longitude, altitude e profundidade, que pode ser explicada, caso queiram, em milhares de formas, seja pelo olhar filosófico, seja pelo olhar poético, ou mesmo pela ciência, a metafísica, a psicanálise. E mesmo pelos transcendentais papos de botecos que permeiam e preenchem o vazio das noites e dias. Pois bem, o estranho mundo de Zé do Caixão não é tão estranho assim. E é assim que Zé faz muito sucesso como cineasta underground nos Estados Unidos. Lá é cult. Lá e cá né.

A condição humana neste planeta é precária. Drummond já dizia isso em versos. Céline dizia em longos romances absurdos, os quais não são tão absurdos assim, pois revelam em linguagem popular nossa tão evidente fragilidade humana. E por falar em falar, houve um monge na Índia que simplesmente abandonou a linguagem falada. É sim. Sendo a linguagem falada – e todas as formas de linguagem e comunicação – um fenômeno social…ah…esse cara…o monge…quis dar o fora desse território. E assim foi. Mas, sobre a precariedade humana…humm..eu tenho estudado grandes filósofos e poetas e todos dizem isso. A condição é punk, é hardcore.

Teteco do Caixão
Teteco do Caixão

E sobre o Zé do Caixão, eu o acho um grande artista. Gosto mais do cinema do Zé que do cinema de Glauber Rocha. Não, não existe aqui bairrismo pelo fato deu eu ser paulista de Taubaté e Zé ser paulista paulistano da Vila Mariana e Glauber ser baiano da Bahia. Entendem?! Eu amo Sampa e gosto muito da Bahia e da ideia do Brasil como um todo como ele é agora..múltiplo, complexo, belo, talentoso e desarrumado, gigante, desigual. Esse Brasil mesmo. O Brasil é pertubado e pertubador, mas a gente vai que vai….e o menino Brasil vai crescendo, por vezes bem alimentado, por vezes desnutrido pra caramba..mas vai. O menino-menina Brasil cresce sempre e não tem sexo.

“O sol pode ser puxado por carruagens”…essa é uma frase, um verso, uma imagem das mais belas que já li em toda poesia. Ela pega. Pegou em mim. Imagino o sol sendo puxado por carruagens pelo azul celeste, pelo crepúsculo, e sinto o quanto tudo isso é poético e lindo e pronto. Essa frase não precisa da ciência, nem da filosofia. É tão somente imensa por ser tão somente poética, bela e divertida, quase e muito lírica. É uma frase…aliás…um verso de Gregory Corso, um poeta beatinick ítalo-americano dos bons que passa muito que desapercebido ou despercebido, como queiram, aqui no Brasil. A editora gaúcha L&PM bem que poderia nos brindar com mais edições de Corso. Que não vende muito. Mas é foda !!!

Julio Vellame pode achar que Teteco enlouqueceu de vez, se embananou em demasia com esse papo de que gosta mais do Zé que do Glauber. Ou nem ache nadinha disso, o Vellame. Sei lá. Sacam?! Há anos que não o vejo, nem mesmo na “grande rede”, esse meu amigo baiano. Bem, enfim, frases são frases e às vezes estão vivas e às vezes estão mortas. Vivas ou mortas podem ser engraçadas ou aterrorizantes…depende do leitor, do ouvinte, do entendedor, do momento, do clima, do ambiente, do solo, do ar, da hora. Só isso. Toninho Matos mais que sabe que Teteco fala um monte de coisas e que nesse monte deve haver uma pepita de ouro, ou duas, ou nem haja nada, e que há muita quinquilharia amontoada de forma ingênua ou sábia. Será?!

Quando Charles de Gaulle disse que o Brasil não era um país sério, ele dizia isso seriamente. De Gaulle não diria de outra maneira. E quando Tom Jobim disse que o Brasil não era para principiantes, ele disse isso de duas maneiras, tão sério e tão cômico. Jobim foi e é assim. Vejam suas letras de canções, suas entrevistas. Genial.

Guilherme Tauil fez um belo lançamento de seu livro de crônicas “Os Sobreviventes do Verão” no Solar da Viscondessa em Taubaté, ocasião e local também escolhido pelo músico Lucas Bernoldi para lançar ou relançar seu CD “Sombras Coloridas”. Tudo muito bom. E no meio dessa festança recebemos do próprio Renato a notícia que Renato Teixeira e Sérgio Reis haviam ganhado o Grammy com “Amizade Sincera II”. A festança foi então ainda maior.

Então galera, pra que não se diga que eu não disse sobre…quero todo mundo lá no Museu de História Natural dia 8 de dezembro, no show de Renato Teixeira e Coletivo Música Taubateana, as 20h. Sacaram?! Será esplendoroso como um novo big bang. E pra finalizar esse diz que me disse, vou dizer algo sempre dito pelo querido Negão Santos, do Paranga; “Não digo mais nada a vocês”. É por aí !!!

 

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Teteco dos Anjos, “músico, proto-poeta e jornalista” e com a cabeça cheia de ideias mirabolantes, escreve semanalmente, ou quando der na telha, no Almanaque Urupês[/colored_box]

 

 

 

 

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