Texto de Dafne Araceli Román
Estamos todos em constante busca pelo amor das nossas vidas. Não sabemos onde está e por isso buscamos, incansavelmente por todos os lugares pelos que passamos. Quando buscamos o amor prestamos atenção nos amigos, nos amigos dos amigos, nos colegas de trabalho e quem sabe, até no carteiro. Que busca estúpida! Não é a busca de um certo homem ou certa mulher.
É uma busca por algo que vai além de um corpo ou um rosto. É o que nos preenche, nos completa, nos sacia só de olhar olho no olho. E por vezes, quando estamos nessa busca desenfreada nós caímos no abismo, duros, pesados e nos machucamos, pois saímos atirando para tudo que é lado para tentar ver se essa pessoa é ou não o amor das nossas vidas. Como somos tolos!
Nossa busca é a busca de todos, todos os seres humanos desejam de uma forma ou de outra encontrar alguém com quem se possa dividir sonhos, medos, segredos, alegrias e tristezas.Alguém com quem se possa contar à hora de cair e alguém para ajudar a levantar à hora que precisar.Alguém para ouvir e para falar quando for preciso, mas que também saiba calar, pois o silêncio, muitas vezes, é a solução de tudo.
Assim como procuramos, esperamos também sermos encontrados por alguém que procura, mas muitas vezes em meio a esta busca sem fim os caminhos se cruzam e nós não prestamos a devida atenção, ou estávamos tentando descobrir se aquela pessoa com a qual nos relacionávamos no momento era ou não o amor das nossas vidas.
Queremos amor como os dos filmes, que nos faça surpresas, escreva carta quilométricas, se declare a toda hora, venha no cavalo branco e perca o sapato no fim da noite. Queremos um amor que nos dê um anel, que nos prometa um mundo, que seja lindo, fofo e acima de tudo, fiel.
Amor que nos coloque para fora, que nos deixe ser quem nós somos, que nos deixe rir no tom de voz que rimos, que nos deixe olhar para o céu, sem ter que fazer nada e que convença à felicidade. Amor paz, amor luz, amor pássaro, amor liberdade. Ser quem é, onde for, como for, mas dividido.
Por muitas vezes, procuramos, procuramos, procuramos e acabamos decepcionados por não encontrá-lo. Mas daí, um certo dia, você desacreditado das procuras, do nada, decide trocar seu almoço por um cigarro e uma xícara de café, ou por meia hora deitada na praça olhando o céu e nesse dia, o inesperado acontece.
Sentado no sofá do seu trabalho, ou deitada na grama e lendo um livro, você meio largado, porque não precisava de enfeites mais, já que havia desistido do tal amor, olha para o lado e avista esse alguém que lhe faz os olhos brilharem, a barriga tremer e os pés flutuarem em questão de segundo. As partículas de CO2 que liberamos em meio a uma respiração e outra foram sutilmente misturadas no ar e de forma leve e natural enquanto os olhares se cruzavam sorrisos de canto eram soltos livre e automaticamente. É neste exato momento que você percebe que é o amor da sua vida. Você não precisou procurar quilômetros e quilômetros, sair para baladas e mais balada, você não precisou ligar para todos os amigos, primos, tios, colegas de trabalho, desesperado atrás de um amor, você apenas precisou esperar e deixar o amor acontecer.
Porque o amor é assim, ele não se procura, ele não caça, ele acontece, ele nasce em meio a olhares e sorrisos tímidos e com o tempo vai crescendo, amadurecendo e tomando forma. O amor não vai chegar a cavalo branco, nem com flores, nem vai perder o sapatinho de cristal no fim da noite. O amor vai ter estresse do trabalho, gripe, TPM. O amor é para ser regado e cultivado, como um jasmim que plantamos no nosso jardim e queremos muito que floresça a cada novo novembro, que se o plantarmos, regarmos, adubarmos e cuidarmos todos os dias com amor, poderá nos render flores sempre, todos os meses do ano, eu conheço um jasmim assim.
Amar é assim, simples, leve, é ser no outro aquilo que realmente somos, é apenas reflexo, duplinha. Encontramos o verdadeiro amor quando nos permitimos ser quem realmente somos enquanto fugimos, enquanto buscamos, incessantemente, quase em desespero, enquanto não somos encontrados, mas apenas, quando somos nós mesmos, sem firulas, sem fantasias, sem mimimi, sentados, tomando um café, lendo um livro, no ponto de ônibus, talvez, no hospital, no parque e quem sabe na balada.
O amor não tem hora e nem data marcada para aparecer, basta sermos nós mesmos que ele nos encontrará. E nessa busca incansável pelo amor acabamos descobrindo que ele é muito mais do que isso. Amor é acima de tudo encontrar-se. Reconhecer-se. Amar-se. Para depois estar pronto para recebê-lo e desfrutá-lo. Amor é descansar, cessar a busca, deixar ser amado. A pressa é sede, a sede é vazio, o vazio é saudade de ser quem somos. Amor é quando perdemos o medo de cair e mergulhamos no desconhecido. Amar é perder o controle da vida, do que procuramos, do que sentimos, por isso não adianta ficar lutando e procurando por todos os cantos, é preciso cautela, paciência e acima de tudo, paz, quando estamos em paz, o amor, acontece.
Nossa busca pelo amor é na realidade a busca por nós mesmos. Buscamos até que haja descanso, até que aquietemos a alma, o coração, o corpo e deixemos de fugir. Para que o amor aconteça é preciso perder o medo de sermos amados de todas as formas, sem manuais, sem filmes, sem modelos prontos. Apenas deixar que o amor se revele e nos revele, que nos faça ver que não é o sapatinho de cristal, o cavalo branco, o anel, as flores, as cartas quilométricas que farão com que o amor exista e inclusive, sobreviva, mas sim que serão os pequenos gestos de doação, de recolhimento, de acolhimento, de confiança, respeito, sinceridade, honestidade, lealdade, de planos juntos, os que farão com que se supere tudo o que possa aparecer de obstáculo no caminho, afinal, se jogar de cabeça no amor, não é pra qualquer um.
Que o amor nos mostre quem somos, nos livre da busca, nos faça flutuar e nos coloque no chão rapidinho, para viver um amor puro, sincero e real. Ame e permita-se ser amado.
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Dafne Araceli Román é argentina, escritora, professora de Espanhol e Português com formação em Letras. [/colored_box]
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