Georgina de Albuquerque: a primeira impressionista

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Como a artista plástica Georgina de Albuquerque saiu das sombras do ex- namorado famoso e tornou-se uma das precursoras da participação das mulheres nas artes plásticas do país

A taubateana Georgina de Albuquerque foi uma mulher à frente de seu tempo.

Considerada a introdutora do impressionismo no Brasil, Georgina nasceu em Taubaté, em 4 de fevereiro de 1885, e viveu em uma época em que a mulher não tinha o mesmo direito que o homem. Foi uma “mulher de República. Era sufragista e lutava pelo direito do voto da mulher”, descreveu seu neto João Lucilio de Albuquerque.

E como tal enfrentou muitas dificuldades ao longo de sua vida.

Retrato de Georgina de Albuquerque, pintado por Lucilio de Albuquerque. Acervo Museu do Estado do Rio de Janeiro
Retrato de Georgina de Albuquerque, pintado por Lucilio de Albuquerque. Acervo Museu do Estado do Rio de Janeiro

A primeira delas foi aos 17 anos quando teve que “confrontar” o diretor da Escola de Belas Artes, onde queria estudar.

“Ela tinha 17 anos quando pediu para um tio levar o primeiro quadro para ver se ela ia ser aceita na escola de Belas Artes. E o tio volta um mês depois dizendo, olha o seu quadro não foi aceito porque eles acharam que era bom demais para uma principiante e que isso deveria ser uma cópia. Ela volta para o Rio de Janeiro com o tio e consegue uma audiência com Henrique Bernadelli (diretor da instituição) e fala olha eu não sou copista, para provar isso eu vou pintar o seu retrato porque eu mereço entrar na escola de Belas Artes. E ela pintou o retrato dele e entrou na escola de Belas Artes”, conta Maria Beatriz de Albuquerque neta de Georgina.

Na Escola conheceu o artista Lucilio de Albuquerque, com quem viria a se casar e por quem abandonou o primeiro ano do Curso na instituição para se mudar para Europa, onde viveu por cinco anos.

Detalhe de retrato realizado por Georgina de Albuquerque em Paris, em 1906 (Acervo Pinacoteca do Estado)
Detalhe de retrato realizado por Georgina de Albuquerque em Paris, em 1906 (Acervo Pinacoteca do Estado)

No Velho Continente recebeu uma “segunda formação” e especializou-se no impressionismo, movimento artístico que preocupava-se com a luz e seus efeitos.

“Georgina entregou-se de corpo e alma à visualidade impressionista, que parecia atender nitidamente à sua sensibilidade como pintora e sua seleção de temas, que permitiam à ela trabalhar os efeitos de luz ao ar livre”, explica o livro Vozes Femininas.

Com dois filhos pequenos no período, nunca deixou de trabalhar.

“Freqüentei museus e procurei pintar, pintar muito, a todas as horas e a todos os instantes do dia. Nem mesmo quando meus dois filhos, Dante e Flamingo, eram pequenos, deixei um só dia de trabalhar. É o que faço sempre, constantemente, a todos os momentos”, contou a artista.**

Georgina de Albuquerque
Detalhe da obra “Na plantação de Café” (1930), de Georgina de Albuquerque. Acervo da Pinacoteca do Estado

Georgina foi “uma artista que soube negociar com as expectativas sociais que se tinha em cima da mulher artista. Que é ser competente, mas jamais negligenciar as funções maternais e as funções de esposa. Isso era uma estratégia importante de sobrevivência, de afirmação, da mulher no espaço público daquele momento” ressalta Ana Paula Simonete, do Instituto de Estudos Brasileiros.

Em 1922, já no Brasil, fez a primeira pintura histórica realizada por uma mulher no país: o quadro “Sessão do Conselho do Estado que decidiu a Independência” que hoje está no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro.

Georgina de Albuquerque
Sessão do Conselho que decidiu a independência (1922), a mais importante obra de Georgina de Albuquerque – Acervo Arquivo Nacional

Trinta anos depois quebrou outra regra e tornou-se a primeira mulher a ser diretora da Escola de Belas Artes.

“Ela modernizou a escola. Foi a primeira mulher que contratou artistas modernos para dar aula na Escola”, ressalta João Lucílio.

O sucesso da artista, segundo o livro Vozes femininas, é resultado “da liberdade ao pintar, aliada a personalidade frágil, decidida e opinática, que fez com que Georgina de Albuquerque fugisse à condição usual de amadora imposta às mulheres as atividades artísticas no Brasil e ocupasse muitos cargos importantes ao longo de sua carreira, prefigurando um outro destino institucional para a mulher no terreno das artes plásticas brasileira.”

 

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* Depoimentos foram retirados do documentário Mulheres Luminosas

** Trecho retirado do site Enciclopédia Itaú Cultura

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Quer saber mais sobre a artista:

Assista aqui ao documentário Mulheres Luminosas produzido em 2012.

Ou leia o livro Vozes Feminina aqui

Veja também Histórias que a História conta sobre a artista

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O que disse a imprensa sobre Georgina de Albuquerque

“Georgina de Albuquerque, como o sabem todos aqueles que seguem o movimento pictorico do brazil, é uma das nossass mais applaudidas artistas da paleta. Pertence, integralmente, á actual e brilhante geração de pintores nacionaes, onde fulgem nomes de real e comprovado valor.” (Correio Paulistano, 10 de fevereiro de 1919)

“Mais de uma vez temos dito que a artista em questão representa o expoente maximo da representação feminina no ambiente artistico carioca.” (Illustração Brazileira, 1920)

“A paizagem, a figura, a marinha, o quadro de genero e o retrato não têm segredos para a pintora; o mesmo talento e a mesma emotividade, ella emprega em todos os generos. Colorista vigorosa, os seus quadros entoam canticos de luz. A sua côr perpetúa no espirito das creaturas um bem estar indizivel. […] A personalidade de Georgina, pelo seu valor, dispensava perfeitamente toda sorte de adjectivos e encomios. Ella representa, incontestavelmente, o expoente maximo, entre as mulheres que cultuam a Arte no Brazil. […] Georgina de Albuquerque é a primeira mulher brazileira que vê a sua obra adquirida pelo Estado, afim de figurar nas galerias da Escola.” (Illustração Brazileira, dezembro de 1920)

“Em Georgina, nós temos a gama de uma artista forte. Da sua obra irradiam o sentimento e o amor do Bello. É uma das poucas individualidades que reunem todos os requisitos para a formação de um caracter.” (Illustração Brazileira, maio de 1921)

 

Sobre a obra “Sessão do Conselho do Estado”

“Georgina de Albuquerque soube emprestar á scena toda a sua alma de artista, todo o seu talento privilegiado; a movimentação das personagens é segura; em todo o conjunto ha a preocupação do acerto e da justeza de toque.”(Illustração Brazileira, Dezembro de 1922)

 

Sobre exposição realizada na Galeria Jorge, no Rio de Janeiro em 1923

“A tela, quando exposta na galeria Jorge, foi alvo da critica honesta, merecendo referencias elogiosas, referencias merecidas por todos os motivos. A pequena tela, pois tem pouco mais de 40 centimetros, revela a feitura segura de um experimentado artista, dir-se-ia pintado por um homem, tal o vigor e a liverdade de pincelada.” (Illustração Brazileira, Novembro de 1923)

 

“Georgina de Albuquerque é uma creatura cuja alma adeja sempre de mãos dadas com a gloria; permanente é o seu extase deante da belleza pura, dahi a grande emoção vivente em todos os quadros que pinta.  […] Bem poucos são os artistas possuidores da operosidade de Georgina de Albuquerque; todos os salões de Bellas Artes encontram na pintora esteio forte capaz de erguel-os sempre á altura que merece ser collocado.”  (Illustração Brazileira, Setembro de 1925)

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