Presidente do Golpe foi demitido em Taubaté

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Ranieri Mazzili foi o último Presidente Civil antes do inverno militar de 21 anos; nos anos de 1930 ele trabalhou em Taubaté

Em 1931, o jovem Paschoal Ranieri Mazzili, então com 21 anos assumiu o cargo de Coletor Federal em Taubaté. A Coletoria foi o maior aparelho arrecadador do governo federal até ser substituído pela Exatoria e posteriormente pelos Postos da Receita Federal (hoje Agências da Receita Federal).

Nessa época, Taubaté estava sob o clima da Revolução de 1930. O chefe do executivo era o Major João Cândido Zanani de Assis, interventor nomeado para substituir o prefeito deposto, Felix Guisard.

A Coletoria de Taubaté foi instalada em 1924 e seu primeiro coletor, Antônio Marcondes de Carvalho, foi exonerado ao fim da Revolução de 1930  para dar lugar a alguém mais afinado com os revolucionários, neste caso, Ranieri Mazzili, que tinha 21 anos na época.

Mas eis que eclode a Revolução de 1932 e o jovem coletor resolve pegar em armas ao lado das forças paulistas fazendo parte do Batalhão Sete de Setembro, que iniciou sua campanha em Guaxupé (MG).

Já com a patente de 1º tenente, Mazzili integrou uma Comissão de Negociação que se dirigiu a Muzambinho(MG), cidade berço do jornalista Milton Neves, para tentar convencer os mineiros a lutarem ao lado dos paulistas. Quase foram presos.

O Governador de Minas Gerais, que era aliado de Getúlio Vargas, determinou a prisão dos componentes da Comissão. Entretanto, eles não foram para cadeia. Muito Bem relacionado, Mazzili era amigo íntimo do filho de um político mineiro de largo prestígio e liderança, que livrou a cara dos paulistas e ainda conseguiu que retornassem às suas unidades.

Os paulistas perderam a guerra e Mazzili o emprego. Ele foi exonerado do cargo de coletor de Taubaté em 2 de fevereiro de 1933, quatro meses após a rendição dos paulistas.

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Quem foi Ranieri Mazzili?

Pascoal Ranieri Mazzilli nasceu no dia 27 de abril de 1910, em Caconde (SP), filho de Domingos Mazzilli e de Angelina Liuzzi Mazzilli.

Em 1930 matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, mas nesse mesmo ano interrompeu os estudos, iniciando em 1931 suas atividades como coletor estadual em Taubaté (SP). Em 1932, passou a dedicar-se ao jornalismo em São Paulo, especializando-se em assuntos fiscais. Em 1936, transferiu-se para o Rio de Janeiro e matriculou-se na Faculdade de Direito de Niterói pela qual se bacharelou em 1940. No decorrer da década de 1940, Mazzilli exerceu diversos cargos públicos na área de tributação no Distrito Federal. Chefe de gabinete do ministro da Fazenda Guilherme da Silveira de meados de 1949 a janeiro de 1951, foi ainda membro do Conselho Nacional do Petróleo.

Em outubro de 1950, Mazzilli elegeu-se deputado federal por São Paulo na legenda do Partido Social Democrático (PSD), ao qual estava filiado desde 1945, reelegendo-se em 1954. Em fevereiro de 1955, candidatou-se à presidência da Câmara, mas foi derrotado. Voltou a candidatar-se ao cargo em fevereiro de 1959, após ter sido eleito deputado federal pela terceira vez consecutiva em 1958, sendo dessa vez bem sucedido. Desde então, reelegeu-se presidente da Câmara cinco vezes seguidas.

Como presidente da Câmara, assumiu a presidência da República algumas vezes, duas delas em circunstâncias extremamente dramáticas da vida política nacional. Por ocasião da renúncia do presidente Jânio Quadros (25/08/1961), o vice-presidente João Goulart, seu substituto legal, se encontrava em missão oficial na China Popular. Por conta disso, Mazzilli, o segundo na linha sucessória, assumiu o governo interinamente. A perspectiva da investidura de Goulart na presidência agravou a crise política já em curso, uma vez que os ministros militares vetaram a sua posse, alegando que ela representava uma ameaça à ordem e à segurança nacional.

Nos dias seguintes, travou-se uma luta entre os ministros militares e seus aliados e aqueles que defendiam a obediência à Constituição. Em 28 de agosto Mazzilli enviou mensagem ao Congresso informando que “os ministros militares, na qualidade de chefes das forças armadas responsáveis pela ordem interna, manifestaram a absoluta inconveniência, por motivos de segurança nacional, do regresso ao país do vice-presidente da República João Belchior Marques Goulart”. Com isso, os ministros militares esperavam forçar o Congresso a votar o impedimento de Goulart. No dia 29, porém, o Congresso rejeitou o pedido de impedimento. Comissão de deputados e senadores decidiu propor, como solução para a crise, a adoção do parlamentarismo. Em 1º de setembro, Goulart desembarcou no Brasil; no dia seguinte, foi aprovada pelo Congresso emenda que instituiu no país o regime parlamentarista, fórmula aceita pelos militares. No dia 7, Mazzilli transmitiu o governo a Goulart, reassumindo a presidência da Câmara.

Em outubro de 1962, Mazzilli foi mais uma vez eleito deputado federal. Em março de 1964, pela sexta vez consecutiva, elegeu-se presidente da Câmara. Em 31 de março, depois de um longo processo de radicalização política, Goulart foi deposto por um golpe militar. Mazzilli assumiu novamente a presidência da República na madrugada de 2 de abril. No entanto, seu poder foi apenas formal: o poder de fato estava nas mãos do autodenominado Comando Supremo da Revolução, formado pelos ministros militares. No dia 11, o Congresso Nacional elegeu o general Humberto Castelo Branco presidente da República, ao qual Mazzilli transferiu o poder no dia 15.

Em fevereiro de 1965, disputou mais uma vez a presidência da Câmara, mas dessa vez foi derrotado. Após a dissolução dos partidos políticos através do Ato Institucional nº 2 (27/10/1965), Mazzilli filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de oposição ao governo. Em novembro de 1966, não conseguiu reeleger-se deputado federal.

Faleceu na cidade de São Paulo no dia 21 de abril de 1975.

Era casado com Sílvia Serra Mazzilli, com quem teve três filhos.

[Fonte: Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001]

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