Peregrinação ao Morro do Fiador

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Muito barro, quedas, dores nas pernas, suor e história pra contar. Foi assim o feriado da Sexta-feira Santa do Almanaque Urupês em 2014, acompanhando a peregrinação ao Morro do Santo Cruzeiro.

O ponto mais alto de Taubaté é, além de destino dos aventureiros, local de manifestação de uma dos mais tradicionais eventos da religiosidade popular na cidade. A peregrinação ao Morro Alto, no bairro do Ribeirão das Almas, acontece anualmente, sempre na Sexta-feira Santa, desde 1917. O local abriga a capela do Santo Cruzeiro, construída aos pés de uma enorme cruz, fruto das missões redentoristas coordenadas pelo primeiro bispo de Taubaté, D. Epaminondas Nunes D’Ávila.

O Morro Grande também é conhecido como Morro do Santo Cruzeiro, Morro Alto e, o mais curioso, Morro do Fiador. Esse último porque, além de lugar de devoção, o morro tornou-se espaço de negócios. Silésio Francisco Tomé, o principal organizador das peregrinações atuais, conta em seu livro, “Santo Cruzeiro, eis o lenho da cruz”, que quando os negócios eram realizados, os negociantes selavam a transação com um fio de barba que era enterrado ao pé de uma árvore. Era o “fiador”, a garantia da palavra do negociante.

 
Bairro das Caieiras. (Angelo Rubim/Almanaque Urupês)

Originalmente, o cruzeiro levantado no alto do morro era feito de cedro, contendo aproximadamente seis metros de altura. Os devotos tinham o hábito de retirar lascas da cruz para serem usadas como instrumento de proteção espiritual, chás e remédios.

Tomé conta que “em caso de chuvas fortes, raios e ventanias, queimava-se um pedacinho da lasca e tudo se acalmava”. Essa prática causou a ruína do maior símbolo de devoção daquela região. A cruz foi substituída por outra em 1935 e novamente em 1951, quando foi construída a imponente cruz de concreto.

 

A PEREGRINAÇÃO

 A peregrinação ao Morro do Fiador representa o final e o começo de um ciclo de devoção, um compromisso de penitência firmado pelos fiéis que buscam graça divina por intermédio de Nossa Senhora da Agonia. Entre o ponto inicial e o final, existem 7 cruzes que são ponto de parada para oração e reverência. Cada ponto representa uma das agonias que Maria passou ao lado de Jesus, até a sua ressurreição.

Imagem de Nossa Senhora da Agonia no ponto inicial da peregrinação, na Oficina do Reinaldo (Angelo Rubim/Almanaque Urupês)
Imagem de Nossa Senhora da Agonia no ponto inicial da peregrinação, na Oficina do Reinaldo (Angelo Rubim/Almanaque Urupês)

Sete fieis são portadores de sete cruzes que devem ser transportadas até o topo do morro, onde serão transferidas para outros fiéis que, ao recebê-las, se comprometem a, cada um, cuidar da cruz ao longo de um ano inteiro e retornar ao morro na Sexta-Feira Santa do ano seguinte, para assim entrega-las a outros fiéis que renovarão o ciclo. É essa a tradição que segue por quase cem anos na zona rural de Taubaté.

O caminho é, de fato, agoniante. Um dos pontos de partida fica no bairro das Caieiras, na Oficina do Reinaldo, que dá acesso ao morro. O morro está a 1407 metros de altitude em relação ao mar. Entre o ponto de partida (+/- 600m de altitude) e o ponto final (1407), há um desnível de mais de 800 metros que se vence por uma trilha de cerca de 3 quilômetros. Nela, pessoas de todos os tipos e idades passam momentos de penitência.

No alto, os que conseguiram chegar assinam o livro de presença que fica dentro da capela, fazem orações, socializam e depois voltam para suas casas. A descida é também árdua. Para os menos experientes, algumas quedas, um pouco de lama e, no final, muitas dores musculares.

 

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