Minhas paixões

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Texto de Renato Teixeira

(Publicado originalmente no Jornal Contato – edição 664)

Todos sabem do meu amor por Taubaté. Aqui tenho meus melhores amigos e minhas referências. Do tempo que passei na cidade levei a régua e o compasso que indicam meus caminhos, como artista e pessoa. Mas duas coisas em especial me unem à cidade e ao Vale do Paraíba. Uma é a santinha que há quase 300 anos surgiu das águas então puras do Rio Paraíba e uniu o país. O primeiro símbolo de identidade nacional que enlouquece de fé e de esperança as pessoas que vagam sem norte por estas paragens. Submersa um tempo que não se sabe, quando emergiu trouxe junto a semente de amor
cuidadosamente guardada que se espalhou pelo que era então apenas território. Iluminou a mina escura, e fundou as nossas vidas. Na minha cronologia, o Brasil começou aí.

Devoto de Nossa Senhora Aparecida. Foto: Miguel Schincariol/FCVB
Devoto de Nossa Senhora Aparecida. Foto: Miguel Schincariol/FCVB

O meu outro grande amor é o Esporte Clube Taubaté. Foi acompanhando meu time do coração que aprendi a ser leal às coisas que gosto verdadeiramente e descobri que a vida vale a pena quando se tem paixão por coisas belas. Como a elegância dos passes do Ivan, a genialidade do Tec, o chute potente do Orlando Maia. Era o melhor futebol do meu mundo, que começava na rua Juca Esteves e acabava no Estádio do Bosque. Ali começaram a nascer meus versos e minha música. Um dia deixei a cidade, comecei a vagar pelas cidades dos outros, mas meu time do coração nunca me deixou. Dois grandes momentos avivaram minhas lembranças.

Foto do último jogo no campo do Bosque, em 1967, atual praça Mons. Silva Barros.
Foto do último jogo no campo do Bosque, em 1967, atual praça Mons. Silva Barros.

No dia 12 de outubro, quando milhares de pessoas vieram saudar Nossa Senhora Aparecida. O outro será no dia 1º de novembro, quando meu time comemora 100 anos. Como comemorar, do meu jeito, datas tão especiais? Comecei a lembrar de quando compus Romaria, que fala das pessoas humildes que viajam muitos quilômetros para mostrar seu olhar para a Padroeira do Brasil, sem se preocupar com o cansaço, o esforço e muitas vezes o sofrimento. Ao ver na TV as imagens recorrentes dos peregrinos trafegando corajosa e perigosamente pelos acostamentos das estradas em direção a Aparecida, deu uma vontade imensa de colocar de pé um antigo projeto meu, que é a Trilha da Imaculada. Quero ver implantado um caminho seguro, exclusivo, ecológico, cultural e turístico que vai de Caçapava a Guaratinguetá, passando por Aparecida, claro. Sonho com o dia em que todas as pessoas, independentemente da sua religião, possam usufruir da trilha e conhecer o rico patrimônio histórico localizado nas cidades que a margeiam. Para ajudar a realizar o projeto, vou procurar o governador Geraldo Alckmin, o cardeal Damasceno e grandes empresas. Será que vou conseguir? Pode demorar mas acredito que sim, penso que uma ideia destas vai conquistar corações e mentes.

Agora, o centenário do E. C.Taubaté. Sinto falta de a cidade comemorar com festas populares uma data tão importante. Estes 100 anos guardam muito da
nossa história e de nossa identidade. Vou fazer a minha parte. No dia 1º de novembro vou amanhecer em Taubaté com a minha viola, escolher um local qualquer da cidade e passar um tempo cantando e tocando sozinho. Quem passar e quiser parar e participar da cantoria será bem vindo. Vou cantar, cantar, cantar como um passarinho, como gostava de fazer minha querida Elis Regina. E no final do dia vou colocar a viola no saco e voltar todo feliz pra
casa, com o dever cumprido modestamente por ter comemorado o centenário do meu amado clube. Vou embora pensando como este século passou depressa. Mas valeu a pena vivê-lo.

 

Veja também:

– Os sem time;

 

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