Um esporte que desapareceu

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Crônica de Oswaldo Barbosa Guisard

Os que não se preocupam ou não têm se preocupado com a história de Taubaté, certamente desconhecem que a atual Avenida Marechal Deodoro no princípio deste século chamava-se “rua da Consolação” como ruas principais da cidade tiveram nomes de “rua do Gado”, “rua do Rosário”, “rua do Fogo” , “Largo da Forca”, etc.

Pois bem, por volta de 1900 e alguns anos seguintes, a rua da Consolação, aos domingos se transformava em raia de corridas de cavalos e para ali afluía grande parte da população da cidade para assistir ao desenrolar dos páreos, que se desenvolviam em linha reta nas distâncias de uma e duas quadras respectivamente para os cavalos de maior ou menor resistência para as corridas.

Anúncio do Hipódromo Taubateense, que ficava localizado na Rua da Consolação, atual Av. Mel. Deodoro.

A quadra media doze braças e a braça dois metros e vinte centímetros.

Consoantes velhos hábitos, as apostas eram feitas no local mesmo das corridas e quando o proprietário de algum animal famoso, ia correr, dobrava o poncho ou pala que costumava usar, no chão, e um seu serviçal de confiança, ia anotando os nomes das pessoas que lançavam dinheiro no mesmo e suas importâncias, o que correspondia às apostas feitas; depois enrolava o pano antes da carreira, sendo que o dono do cavalo ficaria responsável pelo pagamento aos apostadores se seu cavalo perdesse. As apostas eram feitas assim, como na velha história do fio de barba como garantia, endosso, honestidade no negócio.

Páreo da corrida de cavalos

Dezenas de anos mais tarde, assisti, corridas iguais no Sul de São Paulo. Depois, um apaixonado, o dr. Cintra, que possuía uma residência como um castelo senhorial, que tomava todo o quarteirão onde se situa o “Pão Quente” construiu na sua Chácara no caminho de Tremembé, onde é o “Rancho Grande”, um hipódromo com arquibancada, guichês de poules, cavalariças, etc., marcando época o “Joquey Club Taubaté”. Em 1916 ou 17 onde hoje se situa a Fitejul, foi construído o último hipódromo que Taubaté possuiu. Raia de1.200 metros, redonda, belíssima, arquibancada maior do que a que possuía o  Sport Club Taubaté, corridas aos sábados e domingos, abrilhantadas pela veterana corporação musical do velho Alexandrino, a “banda dos ursos” que muitas brigas deu com a sua rival a banda “dos paraguaios”. “Starter”, o homem das bandeiradas de partida, o velho amigo Alfredo Drumond. Alguns dos muitos cavalos que disputavam: “Dourado”, “Diamante”, “Ferrinho”, “Rápido”, “Minerva” e outros dos primeiros páreos. Animais de sangue, de raça, de “pedigree” para os páreos de fundo: “Palestina”, “Montenegro”, “Brisa”, “Marialva”, “Wanterloo” (sic) e outros. Joqueys: Fabretti, João Pereira, dos prados de São Paulo e do Rio, o sensacional bridão Arnaud de Figueiredo, da Guanabara, e muitos outros. Corriam até quatro, cinco e seis cavalos em cada páreo, mas havia também desafios sensacionais, sendo que o mais importante que assistimos foi entre “Marialva” e “Waterloo”, vencido por este, aliás o melhor cavalo que correuem Taubaté. Eramuma delícia as tardes do Joquey Taubateano. E… diziam que o mesmo encerrou suas atividades, devido aos “tribofes” que surgiram!

Oswaldo Barbosa Guisard (1903-1982) 

oswaldoFoi executivo da CTI, vereador e presidente da Câmara. Idealista, participou do grupo fundador da Semana Monteiro Lobato e por 30 anos foi seu principal divulgador, mantendo acesa a sua chama original. Batalhou com perseverança pela preservação e tombamento da Chácara do Visconde, local onde nasceu Monteiro Lobato. Sua fabulosa memória o levou a escrever o livro “Taubaté no aflorar do século, uma grande obra. 

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