Comer é um hábito?

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Texto de Fabiana Pazzine

Apesar das pessoas possuírem gostos diferentes, afirmar que os alimentos que consomem constituem um hábito não é de fácil contestação. Frases como: “o arroz e feijão não pode faltar na mesa do brasileiro” servem como exemplo. O que podemos observar, caso sejamos atentos, é uma mudança desses hábitos alimentares ao longo do tempo. Seja em nome da saúde (pois, ficamos atentos a cada nova orientação nutricional) ou da falta de tempo, os hábitos estão mudando.

O ato de se alimentar possui algumas dimensões, estando entre elas: a da subsistência e o do costume.

Na primeira dimensão, não resta muitas explicações, pois, falamos neste caso, da saciedade da fome.

Na segunda dimensão, esquecemos as necessidades e passamos a prestar atenção nos alimentos consumidos e a forma como eram preparados. Diante deste tipo de observação, é que podemos dizer “Farofa de Içá é típico de Taubaté” ou que “a feijoada é tipicamente brasileira”. Mas o que torna alguns pratos característicos de algumas regiões? Podemos dizer que por meio da associação da oportunidade, da necessidade com uma série de outros costumes desenvolvidos de formas particulares acabaram por influenciar no preparo desses alimentos. Para conhecer o que se consumia no passado recorre-se em geral a documentos que contenham inventários pessoais ou de armazéns de secos e molhados – lojinhas onde se encontrava de quase tudo que era necessário para o consumo –, pois, cadernos de receitas antigos são preciosidades e difíceis de serem encontrados.

Para quem se interessa pelo passado e adora compará-lo com o presente algumas perguntas persistem, mesmo diante das dificuldades: será que se consumia tanta carne bovina quanto consumimos hoje? Será que se consumia as mesmas bebidas ou as mesmas sobremesas?

Por meio da relação de bens do armazém de secos e molhados de Augusto Ferreira Oliveira Patricio, datado de 1854, podemos notar que seus clientes apreciavam consumir entre os doces: latas de goiabada, marmelada e figo em conserva. Já entre as bebidas estão: vinhos diversos, cerveja, champanhe, genebra e aguardente. Entre as comidas salgadas, estavam disponíveis para a compra: bacalhau, sardinha em lata, azeite francês e queijo do Reino. Observa-se ainda, pelas mercadorias encontradas o consumo de açúcar, chá e manteiga.

Já na década de 1860, vemos o consumo de arroz, sopa, café, compotas, chá e farinha. Na década de 1870, observamos entre as bebidas: o chá preto, vinho moscatel, champanhe, genebra, licor, aguardente (de Parati), capilé, garrafa de anis e o conhaque. Entre os outros gêneros de alimentos, estão: o azeite, a azeitona, a marmelada, o peixe, a goiabada, biscoitos, manteiga, duas variedades de açúcar (mascavo e cru), canela, cravo, pimenta, bacalhau e carne seca.

Infelizmente, nem todos os gêneros alimentícios eram encontrados nesses armazéns, já que, nesta época era comum se consumir o que se produzia em casa. Porém, entre os itens citados anteriormente, muitos são apreciadíssimos até os dias de hoje, mesmo que, no caso, das bebidas, muitas sejam incomuns a nós.

 

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Fabiana Cabral Pazzine é professora de história. Pesquisadora de História Cultural e Social.

 

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