Médico e tupinólogo, falecido em 9 de abril deste ano, completaria hoje 100 anos
Filho de italianos, Hugo Di Domenico nasceu em Lorena em 4 de agosto de 1914. Cursou medicina na Faculdade do Rio de Janeiro e ao formar-se veio por influência do médico José Cembranelli morar em Taubaté no ano de 1937.
“Eu sinto como se tivesse nascido em Taubaté. Ela está dentro da gente. Nossa formação interna é baseada em todos os acontecimentos aqui de Taubaté”, contou Hugo em uma de suas entrevistas ao Almanaque.
Aqui tornou-se diretor do Pronto de Socorro do Hospital Santa Isabel (hoje Hospital Regional), foi chefe da clínica médica de mulheres e do Departamento de Patologia. Foi professor do curso de medicina da Universidade de Taubaté. Clinicou também até os 99 anos em seu consultório na rua XV de novembro.
“Sou de uma época em que o profissional de medicina atuava na condição de médico de família. Ele fazia o parto da criança, mas também cuidava dos problemas específicos.” trecho retirado da matéria “Taubaté premia seus batutas” publicada em no jornal O Vale em fevereiro de 2012
Foi também médico do 5º BC da Força Pública do Estado de São Paulo e médico estagiário do 1º Regimento de Artilharia Montada (RJ) onde fez curso de Medicina de Guerra e foi nomeado 2º Tenente Médico da Reserva de Segunda Classe.
“Fiz o curso de medicina da guerra, e servi no primeiro regimento de artilharia montada do Rio de Janeiro. Nosso batalhão preparou-se para seguir para a África, de maneira que todo treino militar foi feito nesse sentindo e no regimento de artilharia montada – os canhões eram puxados à cavalos, que foram substituídos nessa guerra pelos tanques, os tanques que fizeram o papel, de maneira que o nosso batalhão não seguiu para a África. Eu cito esse evento como um fato muito notório na minha vida particular e como médico, pois tive que fazer um curso de cavalaria. E essa experiência me marcou pelo resto da vida. Foi uma das experiência mais notáveis que pude ter na minha vida profissional e militar.”, lembrou o médico.
Além da medicina era também um apaixonado pela língua tupi.
“Eu sempre fui um amante do estudo comparativo das línguas, desde o tempo do colégio. [..] Mas na Faculdade eu comecei a perceber, tomar consciência de que o Brasil tinha milhares e milhares de palavras de origem indígena e o brasileiro não conhece nem o significado de uma palavra, nem da cidade em que ele nasceu e muitas vezes nem do nome que ele leva, que é um nome indígena.” trecho retirado da entrevista ao Programa Sincovat em maio de 2011.
Acreditava que era impossível compreender a língua portuguesa por completo sem ao menos conhecer as palavras de origem indígena.
“Não é que eu queira que toda criança fale tupi. Mas desejo que os estudantes entendam a influência do tupi na nossa língua”, disse ele em uma entrevista no jornal Folha de São Paulo.
“( O estudo do tupi) é um trabalho profundo, demorado, cauteloso e a figura do Dr. Hugo de Domênico é de um importância primordial para o estudo da língua tupi no município de Taubaté.” conta a paleógrafa Lia Carolina.
Passou a vida colecionando palavras da língua indígena que resultou na publicação de três dicionários: Topomínia e Nomenclatura Indígenas de Taubaté, Fotonímia e Zoonímia Indígenas do Município de Taubaté e Léxico Tupi-Português.
Em entrevista ao jornal A Gazeta de Taubaté, em junho de 2013, Dr. Hugo contou que o Dicionário Léxico Tupi-Português seria sua “obra prima. Foram poucas cópias (impressas), quase todas doadas. Fico muito orgulhoso de ter conseguido publicar”.
“É um homem que levou a vida dele procurando decifrar os termos tupis da nossa região”, explica o pesquisador José Bernardo Ortiz.
Além desses, escreveu outros 11 livros. Foi diretor do Departamento de Cultura da Associação Paulista de Medicina de Taubaté, da Prefeitura e do Taubaté Country Club. Foi da comissão organizadora da escola de Belas Artes de Taubaté e da Sociedade de Filosofia, Ciências, Letras e Artes. Foi sócio do clube dos Trovadores de Taubaté e pertencia as academias de letras de Taubaté e de Lorena.
“Sempre gostei muito do que fiz. Escrever, dar aula, a Medicina. Não me arrependo de nada, em nenhum momento”, trecho retirado da entrevista ao jornal A Gazeta de junho de 2013
Foi um “verdadeiro varão de plutarco. Plutarco é aquele autor latino de Roma Antiga que definia que um homem, um verdadeiro homem, devia ser um homem de caráter, útil para a comunidade, capaz de dar de si um trabalho intenso para a comunidade que o cercada, é o doutor Hugo era assim. O Dr. é um dos verdadeiros varões de Plutarco que eu conheci. ” cita José Bernardo Ortiz.
Humilde diante do enorme legado, Hugo de Domenico deixou um recado: “Eu gostaria apenas de ser lembrado como um profissional que cumpriu com seus deveres”.
Veja também:
– Hugo Di Domenico: o tupinólogo
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