Memória: Brasil perdeu Mazzaropi há 33 anos

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Comediante faleceu em 13 de junho de 1981

(Reprodução matéria publicada no jornal Estado de São Paulo no dia 14 de junho de 1981)

O corpo do comediante Amácio Mazzaropi será velado até às seis horas de hoje, no Hospital Albert Einstein, onde morreu ontem (13 de junho), às 8 horas da manhã, de mieloma múltiplo (câncer na medula). Depois, segue para Pindamonhangaba, para ser sepultado no mesmo túmulo de seu pai.

Mazzaropi tinha 69 anos e estava internado há 26 dias. Vinha sofrendo de câncer desde 1979, embora só ficasse sabendo da doença nos últimos meses.

Seu último filme, O Jeca e a Égua Milagrosa, foi exibido em 1980. Neste ano ele se preparava para filmar O Jeca e a Maria Tomba Homem, mas os sintomas da doença fizeram com que suspendesse tudo.

Solteiro, com 30 (sic) filmes, a maioria produzido por ele mesmo, Mazzaropi deixa a mãe, Clara Ferreira Mazzaropi, de 90 anos, que não será notificada da morte do único filho, e Péricles Moreira, de 36 anos, filho de uma de suas empregadas, adotado por Mazzaropi logo ao nascer.

Vários artistas e amigos começaram a chegar ao hospital antes mesmo do início do velório, como Geni Prado, Hebe Camargo e David Cardoso que, de alguma maneira, tiveram suas carreiras ligadas à do artista.

Imagem: http://dudelamonica.blogspot.com.br/
Imagem: http://dudelamonica.blogspot.com.br/

Geni Prado começou a trabalhar com Mazzaropi em 51, ainda na televisão, mas a partir de 59 passou a acompanhá-lo no cinema, fazendo um filme por ano, sempre como esposa do personagem “Jeca”, em fitas “caipiras”. “Convivi com ele durante todo este tempo. Éramos como uma família, devo minha carreira a ele. Nos seus filmes, gostava de improvisar, porque ele era engraçado mesmo na espontaneidade, um artista nato.”

Hebe Camargo fazia dupla com Mazzaropi bem antes, no final da década de 40, no rádio: ela cantava e ele completava a apresentação fazendo humor. “Esta é uma perda terrível, numa época em que o mundo está tão necessitado de humor. E a alegria dele era autêntica, ingênua, não apelava. Era como um repentista, não precisava de texto para fazer rir. Com a morte dele, o cinema brasileiro vai encerrar uma fase importante. Ele deixa uma indústria cinematográfica perfeita, com uma equipe de técnicos de alta qualidade, que vai continuar com seu filho, mas já em outro esquema.”

Imagem: Jovem Pan
Imagem: Jovem Pan

Também David Cardoso reconhece que está encerrada uma fase importante do cinema nacional, mas não compara Mazzaropi a nenhum outro comediante porque “ele era único em sua arte de fazer rir. Não foi produzido, ele mesmo se produziu e aí está sua grandiosidade”. David Cardoso trabalhou com ele somente dois anos, em 63 e 64, o suficiente para estruturar sua formação cinematográfica. “Foram anos decisivos para mim. Com ele aprendi tudo para continuar a carreira”.

O ex-governador Laudo Natel também compareceu para render homenagem ao amigo, que conheceu na época em que governava São Paulo, chegando a participar do lançamento de um de seus filmes. Para Natel, ele era um artista que agradava a todos e, “mais do que ter criado um estilo cinematográfico na figura de “Jeca”, ele era um figura humana, sempre pronto a dar chance para os novos”.

A obra de Mazzaropi deve ter continuidade agora com seu filho Péricles Moreira, diretor da PAM Filmes. “Vou seguir a mesma filosofia dele, fazendo filmes livres sem pretensões de ganhar prêmios. Vamos filmar O Jeca e a Maria Tomba Homem; temos a atriz, mas perdemos o ator principal.” Ainda sem sentir emocionalmente a morte do pai, Péricles Moreira diz ter medo do que possa acontecer depois, quando tiver consciência plena do fato. “Ele não era só meu pai, era também meu irmão e amigo. Uma pessoa muito alegre e, mesmo sendo rico, conservava a simplicidade. Mas o que eu mais admirava é como ele, humilde, conseguiu construir uma vida tão notável.”

Uma vida que começou em 1912, em São Paulo, quando Amácio Mazzaropi, ainda menino, foi morar em Taubaté, onde iniciou a carreira artística. Isso ocorreu quando apareceu ali um faquir de nome Ferry, que precisava de um assistente. O então garoto se ofereceu para o cargo, mas logo descobriu que o público preferia ouví-lo contando piadas do que deitado numa cama de pregos. O que ele passou a fazer a partir de 1932, já em São Paulo, em pequenas salinhas alugadas para a apresentação de faquir ou grandes jibóias. Para distrair o público, que na maioria das vezes se desligava daquela patética figura deitada sobre pregos, Mazzaropi contava piadas. Agradou tanto que resolveu montar um elenco teatral. Em 1940, levou para Jundiaí seu Teatro de Emergência, assim denominado porque era inteiramente de zinco, desmontável e com todas as características dos pavilhões da época. Atuava como galã, diretor, autor e empresário e montava textos como Divino Perfume e Deus lhe Pague. Fez rádio e em 1950 participou da inauguração da TV Tupi. E, dois anos depois, a descoberta pelo cinema o tornava nacionalmente famoso e popular.

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Veja também:

– Mazzaropi em desenho animado

– Mazzaropi trabalhou na CTI

– Campeão de Bilheteria – Amácio Mazzaropi

– O Jeca contra o tubarão

– “O Brasil é o meu público” – Entrevista com Mazzaropi

– Mazzaropi não era corintiano

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