A história de um herói da aviação brasileira
Por Gilberto da Costa Ferreira
FERNANDO BARROS MORGADO nasceu em Taubaté-SP aos 07 de outubro de 1922, um sábado da primavera brasileira. Era filho de José Félix Morgado, um competente contador e de Coleta Nogueira de Barros, tradicional família taubateana e o caçula dos irmãos José de Barros Morgado, Ernani de Barros Morgado, Maria de Barros Morgado e Félix Barros Morgado.
Juventude e estudos
Fernando, durante sua juventude em uma época vivida na tranquila e próspera Taubaté, era um estudante muito aplicado e absorto em si mesmo. Em 1939, como ilustrado pela foto acima, concluiu seus estudos, formando-se no colegial no saudoso Ginásio do Estado, localizado à Rua Visconde do Rio Branco, nº 22, centro, berço de cultura de ilustres personalidades. Despertando e demonstrando pendores de amor à Pátria e desejoso ser um integrante do CPORaer (Centro de Preparação dos Oficiais da Reserva da Aeronáutica), ao atingir a maioridade, contou com a orientação sempre valiosa de seu irmão Félix Barros Morgado, à época, Cadete da Força Pública do Estado de São Paulo, que o aconselhou a inscrever-se como tal.
As portas se abrem
Com a criação do Ministério da Aeronáutica em 20 de janeiro de 1941 e o consequente surgimento da FAB e do CPORaer, tornou-se inevitável a procura dos jovens brasileiros em busca de tão acalentado sonho e de melhores dias. Até então, a formação dos aviadores da Força Aérea Brasileira era processada em escolas regulares da ativa com duração em média de três anos. Com a possibilidade concreta para a formação de novos pilotos e especialistas, bem como aos oriundos do CPORaer e em razão da evidente necessidade tendo em vista a eclosão da Segunda Guerra Mundial em 1º de Setembro de 1939, firmaram-se parcerias de treinamento com os Estados Unidos da América do Norte.
Um sonho se concretizando
Assim, os Aspirantes da Reserva foram enviados às bases nos Estados Unidos para treinamento, que, ao invés dos três anos exigidos para sua formação no Brasil, seriam necessários apenas nove meses para sua conclusão, findo os quais, se aprovados, retornariam ao Brasil para incorporação à FAB em caso de convocação. Concluídos os cursos e aprovados, os Aspirantes a Oficiais da Reserva da Aeronáutica receberam o Gládio Alado, Símbolo da Força Aérea Brasileira, na cor branca e que visualizava a diferenciação dos Oficiais da Ativa e sua cor preta. Por isso ficariam conhecidos como “Asas Brancas”. Fernando Barros Morgado estava entre eles. Como bolsista do governo brasileiro, aquele jovem oriundo de Taubaté, a mais importante cidade do Vale do Paraíba Paulista à época, se tornaria um piloto “Asa Branca”. Morgado, como era identificado militarmente seu nome de guerra, sendo intrépido, audacioso e tomado de um espírito ultranacionalista, atenderia ao chamado de seu País ao ser convocado para defender a Pátria. O seu grande desejo afinal, havia se concretizado. Foram momentos de extrema doação e de enfrentamento de um curso extremamente difícil devido ao grau de intensidade, como objetivo na formação dos pilotos americanos. Enfrentou e venceu as dificuldades encontradas à sua frente de maneira soberba, portando-se como um verdadeiro herói a serviço de seu País. O núcleo do 1º GAvCA era constituído de 32 Oficiais e Praças. Todos se submeteram a um processo de instrução aérea nos Estados Unidos durante nove meses, após concluírem um período de treinamento no Brasil. O Republic P-47 foi escolhido como avião do grupo por sua força e resistência em combate. O ciclo de instrução foi concluído no dia 31 de agosto de 1944. Ao total foram 445 missões, sendo 19 delas confiadas ao herói taubateano, Asp Av. Fernando Barros Morgado.
A 2ª Guerra
Morgado apresentou-se em Pisa no dia 03 de abril de 1945, quase ao final da Segunda Guerra, tendo ingressado direto na escala de vôo. Possuindo alto padrão de pilotagem e grande combatividade, aliado ao fato de ser considerado um piloto de coragem, igualava-se em todos os quesitos aos veteranos, desde a perfeição do vôo de formatura até ao ataque aos objetivos propostos, sendo designado para voar na “Blue Fligth”, a Esquadrilha Azul, tendo desempenhado 19 missões de combates no período de 11 de abril a 30 de abril de 1945, em que esteve frente a frente com o inimigo.
Bombardeando Sorbolo
Seu maior feito dentre as missões que lhe foram atribuídas está relacionado à destruição da Ponte Ferroviária de Sorbolo, uma comuna italiana da região da Emília-Romanha, Província de Parma, em 24 de abril de 1945. Em outra ocasião, foi atingido seriamente por um Flak (canhão de defesa contra aviões), durante missão em Passo de Brennero, uma comuna italiana da região do Trentino-Alto Ádige, província de Bolzano. Morgado era um aviador extremamente reservado, porém, de excelente caráter. De estatura mediana (1,73 cm) e de compleição física robusta e bem determinada. Era uma pessoa querida entre seus pares e superiores. Um militar de Primeira Grandeza! Os usos, costumes e o novo idioma não foram suficientes para detê-lo em busca de seu tão acalentado sonho de aviador. Sobrepujou-os e recebeu ao final de sua gloriosa missão militar as láureas da vitória ao portar em seus ombros a “Asa Branca” e a “Silver Wing” junto ao seu peito, oferecendo tudo de si pela tão nobre causa e pela defesa da honra de seu País. Foi condecorado com a Cruz de Aviação Fita “A”, com a Campanha da Itália e com a Presidential Unit Citation (EUA).
Regresso ao Brasil
De regresso à Pátria, Fernando Barros Morgado ainda permaneceria um bom tempo na Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, instruindo e transmitindo aos jovens promissores pilotos toda sua capacidade de ensinamento, principalmente sua maior especialidade e que sabia como poucos fazer tão bem: a aviação de caça. Ao final, decidiu desengajar-se da Aeronáutica e seguir aos caminhos da Aviação Civil. Casou-se com Ilma Vieira Morgado e dessa união tiveram os filhos Ana Maria, Marisa e Fernando. Seus filhos lhe presentearam com os queridos e diletos netos, Renato, Thaís, André, Vivian e Carolina e os bisnetos Arthur, Isabela e Eduardo. Ingressou na Panair do Brasil, à época, considerada a maior empresa de aviação civil da América do Sul, onde efetuou 8.000 horas de vôo, utilizando-se das aeronaves modelos DC-3, Catalina e Costellation. Nessa Companhia também exerceria papel importante e de destaque como Chefe da Base de Belém-PA.
ÚLTIMA VIAGEM E O FATÍDICO ACIDENTE
Em 16 de junho de 1955, uma quinta feira de um dia de triste memória para todos os brasileiros, um avião da Panair do Brasil, o Lockheed L-149-46-26 Costellation PP-PDJ em viagem internacional, Vôo 263, executava Londres-Buenos Aires. A aeronave fez paradas no Rio de Janeiro e São Paulo, decolando com destino ao Paraguai, e, por fim, Buenos Aires, na Argentina. Quando do acidente, ao atingir a curva-base para pouso do Aeroporto Internacional Silvio Pettirosi, em Assuncion, Paraguai, veio a acidentar-se, caindo nas proximidades do aeroporto durante tentativa de pouso.
DESTROÇOS DO COSTELLATION PP-PDJ
A queda deixaria um saldo de 16 mortos e 8 feridos. Os feridos, com queimaduras graves, foram levados para os primeiros socorros em um caminhão pertencente ao Sr. Chamorro, proprietário da área em que caíra o Costellation. O Comandante Morgado fora acionado como piloto reserva (stand by) e ocupava o assento da direita, portanto, não exercia as funções de piloto em comando.
Guerreiro nos momentos difíceis
Nesse acidente em que vitimou 24 passageiros, sendo 16 mortos e oito feridos, várias coincidências infelizes marcaram esse acontecimento, mas o que mais impressionou foi sua determinação em sobreviver, comportando-se como um verdadeiro guerreiro. Conseguiu sair do avião somente após seu suspensório queimar-se, arrastou-se num braço só, com o pé esquerdo preso somente pelo tendão, encostando-se a uma bananeira e esticando braços e dedos e gritando (para manter o moral elevado e revelar sua posição para os grupos de resgate), segundo seu depoimento tomado ainda no calor do acidente.
O adeus e o reconhecimento de Taubaté
Internado por vários dias com 75% do corpo queimado, veio a falecer no dia 1 de julho de 1955 na cidade do Rio de Janeiro. Seu corpo foi transladado para sua cidade natal, Taubaté-SP, onde está sepultado no Cemitério da Venerável Ordem Terceira, Anexo do Convento de Santa Clara, em Taubaté-SP, no Jazigo Perpétuo de nº 46, da ilustre Família Morgado. Através de Lei Municipal, teve reconhecida sua importância como herói brasileiro na 2ª Guerra Mundial, tendo inscrito seu nome em uma das ruas de Taubaté, sua cidade natal, localizada no Jardim das Bandeiras, como “Rua Fernando Barros Morgado – Comandante”.
REQUIESCAT IN PACE, GIGANTE TAUBATEANO DOS ARES!
PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA – HISTORIADOR, PESQUISADOR, ESCRITOR E COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO
http://professorgilbertocf.blogspot.com.br/
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