Dona Xepa é de Taubaté

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Personagem de sucesso no teatro, cinema e tv foi escrito especialmente para atriz que viveu em Taubaté

Quem conhece mais profundamente sobre telenovelas, sabe que Dona Xepa, que fracassou recentemente na Rede Record é a terceira  adaptação  para a tv da peça de Pedro Bloch que estreou em 1953.

Caricatura de Alda Garrido no suplemento de Teatro do jornal A Noite, do Rio de Janeiro
Caricatura de Alda Garrido no suplemento de Teatro do jornal A Noite, do Rio de Janeiro

 O que poucos sabem é que Dona Xepa foi escrita sob medida para uma atriz que viveu muitos anos em Taubaté. Trata-se de Alda Garrido.

aldaOs anos em Taubaté

O pai de Alda, o pintor João Serapião Palm – segundo crônica de Oswaldo Barbosa Guisard (1900-1982) – foi acolhido pela família Nogueira Barbosa quando veio sem lenço e documento do Rio de Janeiro. Com a ajuda de seus hospedeiros montou seu pequeno “atelier” na rua Visconde do Rio Branco, num quartinho nas proximidades da atual faculdade de Filosofia.

Algum tempo depois, namorou e casou-se com Amancia, filha de um sitiante do bairro da Baraceia. Tiveram quatro filhos, entre eles Alda, que nasceu em São Paulo em 1896 e foi criada em Taubaté até casar-se com o ator Américo Garrido, filho do consagrado teatrólogo Eduardo Garrido.

Precursores de Mazzaropi

Um caipira esperto, que se envolvia em toda sorte de aventuras, era o responsável pelas maiores bilheterias registradas na década de 1910. Interpretado por Sebastião Arruda, o sucesso do caipira originaria a corrente regional-nacionalista que tomou conta do teatro brasileiro até a década de 1920. No teatro, ser caipira estava na moda. Alda Garrido estreou em 1916 numa opereta de Oduvaldo Viana incorporando a versão feminina de Arruda.  O teatro incorporava a fala regional como representação brasileira. Em São Paulo era o caipirês e no Rio de Janeiro a fala malandra.

osgarridosAlda e o marido Américo surfaram nesse sucesso, formando em 1919 a dupla Os Garridos.Radicada no Rio de Janeiro, Alda causou furor e a crítica se derreteu:

“..Alda Garrido é a atriz típica brasileira, com os seus sapatos de homem, suas meias enrodilhadas, sua saia rabuda, sua bata larga, seu cabelo arrepiado evidenciando nunca ter visto pente, seus modos desengonçados e canhestros, a coçar-se toda, é o Brasil, o Brasil todo inteirinho, o Brasil das fazendas de café, […] Alda Garrido é caipira, roceira, tapiocana”, escreveu Mário Nunes, para o Jornal do Brasil.

Nas décadas seguintes, Alda colecionou sucessos e prêmios. Era dona da própria companhia, cobiçada por autores, além de escrever peças bem sucedidas. As montagens que traziam seu nome encabeçando o elenco lotavam os teatros. Alda tinha um público fiel que ia ao teatro para vê-la. Fez sucesso até em Portugal e mereceu a atenção do New York Times.

Dona Xepa

Na década de 1950, Alda era uma estrela. Pedro Bloch, fã confesso que despontava como dramaturgo, escreveu Dona Xepa especialmente para ela. Xepa, nas palavras de Bloch, “é mulher do povo; que oculta nos gestos rudes a alma simples e boa. Sabe, por instinto que vida, não é o que a vida nos dá, mas o que damos à vida. Fala o que pensa e pensa o que fala”.

 Nino Melllo, Alda Garrido e Zezé Macedo em cena de Dona Xêpa. Biblioteca de Conteúdos Culturais
Nino Melllo, Alda Garrido e Zezé Macedo em cena de Dona Xêpa. Biblioteca de Conteúdos Culturais

“Os tipos são humanos, tão reais que nos lembramos imediatamente de gente conhecida. Pode estar certo que será a comédia que receberá o maior entusiasmo de minha parte” afirmou Alda, antes da estreia da peça em 1953. E se entusiasmou mesmo. Encenou a Xepa mais de 500 vezes. Até hoje é considerada um dos maiores sucessos do teatro carioca. Em 1959, a obra foi adaptada para o cinema, repetindo o sucesso nos palcos.

Cultura valeparaíbana

Dercy Gonçalves
Dercy Gonçalves

Assim como fizeram anos depois Amacio Mazzaropi e Renato Teixeira, Alda Garrido se destacou nas artes explorando, sem reservas, o caldeirão cultural valeparaíbano.

“A Alda Garrido era muito boa, mas fazia o tipo caipira”, lamentava Dercy Gonçalves, com uma inacreditável ponta de preconceito.

Assim como Mazzaropi e Teixeira, Alda não nasceu em Taubaté, mas foi uma das maiores divulgadoras da cultura local.

Prestativa, continuou por muitos anos visitando parentes e velhos amigos taubateanos. Não se esquecia da madrinha  Zília, mãe de Jaurés e Oswaldo Barbosa Guisard.

Alda Garrido é uma personalidade, que, pela representatividade e influência na cultura brasileira, está merecendo um estudo mais detalhado. E Taubaté precisa, urgentemente, incorporá-la adequadamente ao panteão dos vultos da terra.

[box style=’media’] Assista Dona Xepa interpretado por Alda Garrido

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