Voa, Vale!

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Por Renato Teixeira

Tenho um carinho declarado pela via Dutra, a estrada por onde passam nossos sonhos e nossos destinos. Taubaté é uma cidade a beira de uma estrada e, por isso, a estrada sempre foi nosso melhor argumento. Eu mesmo componho músicas estradeiras o tempo todo. Fomos criados ouvindo o ronco dos motores passando pela Dutra e qualquer coisa que precisássemos lá estava ela, a estrada, pronta para nos socorrer e nos levar.

Placa de Inauguração da Rodovia Presidente Dutra, em 19 de janeiro de 1951
Placa de Inauguração da Rodovia Presidente Dutra, em 19 de janeiro de 1951

Todas as cidades do Vale devem muito a essa estrada carismática e importante, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. Agora estão chegando, e sendo muito bem vindas, as novas opções rodoviárias, como a Carvalho Pinto e a Ayrton, estradas que criaram novas e confortáveis opções de viagem.

Temos também o trem. A antiga Estrada de Ferro Central do Brasil passa por aqui e não fosse o abandono desagradabilíssimo em que se encontra a velha e linda estação, com certeza o povo da cidade reconheceria a importância histórica dessa linha férrea, para o progresso da toda nossa região. Quando ainda vivia em Taubaté e namorava em Barra Mansa, a cada quinze dias, lá estava eu embarcado no lindo trem de aço que, administrado por uma companhia inglesa, não atrasava um segundo sequer. Na hora prevista, lá estava ele reluzente e belo, pronto para receber os passageiros. Todos os vagões eram confortáveis e espaçosos. As poltronas, largas e suficientemente distantes uma das outras para que, com as pernas esticadas, nos sentíssemos em casa.

Trem da MRS, empresa que administra a antiga Estrada de Ferro Central do Brasil. (Angelo Rubim/Almanaque Urupês)
Trem da MRS, empresa que administra a antiga Estrada de Ferro Central do Brasil. (Angelo Rubim/Almanaque Urupês)

Quando fazia o caminho de volta e desembarcava em Taubaté, voltava pra casa no Jardim Russi a bordo de uma daquelas inesquecíveis charretes, nossos taxis genéricos de então. Por sinal em Taubaté a charrete deveria ter um espaço só pra elas, pois, além de confortáveis e ecológicas, causam uma sensação atávica.

Havia também no trem de aço um vagão mais confortável ainda, o Pullman, um pouco mais caro. Nele, as poltronas não eram fixas para que pudéssemos virá-las para as amplas janelas e, assim, assistirmos o Vale se mostrando para os viajantes com seus campos e cidades.

Interior do vagão Pullman da Companhia Paulista de Trens, em 1978
Interior do vagão Pullman da Companhia Paulista de Trens, em 1978

O vagão restaurante era outra atração do Trem de Aço. Comia-se muito bem e com certeza o serviço era prestado por uma equipe competente e criativa. Foi lá que, pela primeira vez, comi uma casquinha de siri e descobri o pudim de pão.

O tempo passou, o trem passou e todas as tentativas de trazê-lo de volta não funcionaram, infelizmente.

O Vale do Parahyba mudou muito. Sua localização privilegiada atrai grandes negócios e todas as vezes que pressinto uma certa tendência em direção aos deselegantes galpões para depósito rondando a cabeça dos investidores mais imediatistas, tremo nas bases. Gosto de ver o pulsar da vida nos negócios do dia a dia.

Dia desses, curioso, fui ver aquela movimentação de terra, lá pros lados de Caçapava, onde estão construindo um empreendimento com o nome de “Aerovale”.

Máquinas trabalham na terraplanagem do novo aeroporto em Caçapava.
Máquinas trabalham na terraplanagem do novo aeroporto em Caçapava.

Muito interessante… em alguns lugares do Planeta, o tipo de aeroporto que faz parte do negócio já faz muito sucesso. O cidadão mora num condomínio com uma pista exclusiva e guarda o avião num hangar que fica no lugar onde, antes, ficava a garagem do carro. E pode, também, transferir seus negócios para perto da “casaeroporto” porque está prevista a preservação de áreas especificas para construção de escritórios; e se você se dispuser a levar pra lá sua indústria, também há um espaço reservado para isso. Adoro essas novidades que mostram as virtudes e conquistas do povo do planeta. A minha assinatura de TV tem mostrado o quanto de novidade criativa existe nesse mundo. Sou o rei do Discovery e meu programa favorito chama-se “Mega Construções”.

Todas as formas de caminho passam pelo vale. Estradas, aeroportos e um magnífico potencial ferroviário. Fica faltando apenas a navegação fluvial, pelo Parahyba, o nosso Rio Sagrado. Tenho visto coisas, como esse aeroporto na Taiada, que me fazem acreditar que esse dia já vem vindo por aí…

Voa Vale, voa!

 

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Publicado originalmente na edição 609 do Jornal Contato

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