Arquivos DEOPS: verdade histórica?

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Os arquivos do DEOPS, liberados na internet no último 1° de abril,  devem ser analizados com critério pois não representam a verdade histórica e foram construídos para justificar a violência do estado autoritário.

Documentos do Deops, no Arquivo do Estado. (Marcelo Camargo/ABr)
Documentos do Deops, no Arquivo do Estado. (Marcelo Camargo/ABr)

É assim que pesquisadores, jornalistas e vítimas da repressão advertem sobre como os consulentes devem fazer a  leitura dos documentos.

Vladimir Sacchetta, presidente do Conselho Administrativo da Associação dos Amigos do Arquivo Público de SP, lembra que o consulente precisa ter critérios sobre o uso dos documentos.

 “Eles não são a verdade histórica. É preciso lembrar que esses documentos foram produzidos pela polícia repressiva. Muitos dados foram falseados ou extorquidos”, afirma Sacchetta.

Paulo Abraão, presidente da Comissão de Anistia, ponderou que muitas informações presentes nos documentos devem ser confrontadas com relatos das vítimas da repressão.

“Nós sabemos que boa parte desses arquivos revelam um falseamento da realidade. Boa parte dos arquivos da repressão foram construídos para justificar a violência do Estado autoritário e dentro deles estão muitas mentiras”, declarou. Abrão acredita que a disponibilização dos arquivos representa um avanço também para o reconhecimento do direitos das vítimas da ditadura militar.

O ex-governador, José Serra. (Marcelo Camargo/ABr)
O ex-governador, José Serra. (Marcelo Camargo/ABr)

O ex-governador José Serra, também se pronunciou para a Folha de S. Paulo sobre as falhas nos prontuários:

“Vi a minha ficha há alguns anos. Poucas vezes vi informações tão erradas quanto vi nesse levantamento”, afirmou Serra, para quem muitas informações produzidas pela repressão buscava respaldar atos ilegais cometidos pelo regime.

“Constava que eu chorei num jantar com o Iuri Gagarin aqui no Brasil, quando ele falou da União Soviética. Eu nem estive lá. A quantidade de erros é imensa e isso também deve ser objeto de análise”, disse Serra.

O Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (DEOPS/SP), foi criado em 30 de dezembro de 1924 e regulamentado em 17 de abril de 1928. Tinha como objetivo prevenir e reprimir delitos considerados de ordem política e social contra a segurança do Estado. Até ser extinto, em 4 de março de 1983, esteve subordinado a diferentes órgãos, assumindo variadas formas de organização interna e diferentes nomenclaturas – foi chamado de Delegacia, Superintendência e por fim Departamento.

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