TROVAS SERTANEJAS – Cesídio Ambrogi

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trovas-cesidioTROVAS SERTANEJAS

Teu zoio é um prego fincado
No meu peito soffredô;
E é nelle que eu dipinduro
Tomo o meu sonho de amô.

Na porcissão quando a virge
No seu andô vae passano,
Penso que a santa é mecê
Que as virge vão carregando…

Quando ocê garra a me oiá
Minha arma inté fica tonta,
Que esse teu oiá, meu bem,
É que nem faca de ponta.

Ai! Que invegia desse santo
Que os meu zoio nunca vê,
Que anda iscundido em seu seio,
Dando buquinha em mecê…

Eu já fui que nem boi brabo
No campo da vida, a urrá;
Hoje sô como um carnêro
Na canga do teu oiá.

Na capella quando ocê
Á virge os zoio levanta,
Porque ocê é mais fermosa
Garro a me serri a santa…

Tua voiz de tão bunita
Té me inlôquece de amô:
Parece a voiz de um cuitelo
Cuchichando c’uma flô.

Mêrmo imbóra seje noite,
Vendo o sór do teu oiá,
Na rozêra do meu peito
Minha arma garra a cantá.

Quando penso que de amô
Nos teus braço hei de morrê,
Chego mêrmo a suá frio
Cum mêdo de te perdê…

Si ás veiz mecê nos meu zoio
Põe seu zoio de perdiz,
Quage inté morro mêrmo
Disgraçado de Feliz!

 

Do livro – Dentro do Meu Sertão, inédito)

Cesídio Ambrogi

 

Publicado no jornal O Libertário, de 21 de maio de 1925. Acervo DMPAH

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Cesídio Ambrogi
(1893-1974)

Um dos principais escritores paulistas.

Nasceu em Natividade da Serra-S.P. Em 1904 muda-se com a família para Taubaté. Jornalista militante, colaborou, por meio século, em periódicos de São Paulo. Tomou parte ativa na vida artística e literária valeparaibana.
Em 1923 tem seu livro de “As Moreninhas” editado pela Monteiro Lobato Editores. A partir daí nasce uma amizade que, em parte, é registrada nas dezenas de cartas, ainda inéditas, que Lobato enviou ao escritor.
Em 1947 lança o livro “Poemas Vermelhos” prefaciado por Monteiro Lobato. A obra tem grande repercussão na crítica literária da época.
Fez parte do grupo de intelectuais que instituíram a “Semana Monteiro Lobato”.
Permeada pela poesia e pelo amor as tradições populares, a obra de Cesídio Ambrogi apresenta o dom poético e a arte de versejar que o fizeram um dos mais importantes poetas paulistas.

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