A sétima arte “pintando o sete”: o cinema e suas esferas de influência em terras tupiniquins, a exemplo na terra de Lobato

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[…] através do cotidiano ou quase cotidiano é que se fixam, nas culturas, os característicos e se firmam os seus valores. É que se consolidam nas sociedades as suas constantes” (GILBERTO FREYRE)

O cinema, considerado a sétima arte, pode ser entendido de duas formas: sua criação e exibição pela estética e função mercadológica. Assim, existem filmes bem conceituados que trabalham assuntos referentes a questões sociais ou particulares dos indivíduos cuja estética, a “arte pela arte”, é discutida entre os críticos do cinema, mas nunca foram exibidos nas grandes salas do país.

Diferente daqueles que muitas vezes são campeões de bilheteria e foram feitos para serem vendidos. Tratamos aqui, da venda de diversão e lazer.

O cinema e suas produções tiveram muitos avanços durante os últimos anos. Sua ação ideológica em terras tupiniquins se deu de forma mais efetiva a partir dos anos 50. No Brasil essa década foi responsável por várias mudanças, seja nos campos: sociais, políticos, econômicos e culturais, envolvendo modernização e implantação do modo de vida americano (American way of Life), mais intensificados.

Anúncio de exibição do filme “O Máscara de Ferro” no antigo Cine Urupês

No campo cultural, seja com a Bossa Nova, com o cinema, ou com as roupas, os comportamentos internacionalistas foram sendo difundidos no país. Um exemplo disso, temos o filme americano Juventude Transviada, com o ator James Dean, que retratava em uma sociedade conservadora e disciplinadora a rebeldia dos jovens, problemas de afetividade e repressão sexual. Esse filme apresentado no país dividiu opiniões. Lembrando que essa década é um momento de transição entre o rural e o urbano, ou seja, os valores sociais estão recebendo fortes influencias com o processo de urbanização das cidades e intensificação do trabalho, incluindo a inserção da mulher neste mercado.

Toda essa modernização no Brasil não ocorreu sozinha. Como um projeto contínuo, iniciado nos anos 30, chamamos de Modernização Conservadora, quando a sociedade vai alterando involuntariamente por contatos culturais seu modo de viver e pensar, mas não de modo radical, vai mantendo sua tradição, que em muitas sociedades é o forte e a segurança de que ela nunca terá fim.

Em Taubaté, este exemplo fica muito claro. E existem críticas às exibições dos filmes no cinema, que se encontrava onde hoje é a Igreja Universal do Reino de Deus, na rua Carneiro de Souza. Nesse período os cinemas em Taubaté eram respectivamente: Cine Palas, Urupês, Boa Vista e Metrópole, como trata o jornal A Tribuna.

No artigo do Jornal feminino O Diferente de Março de 1956, o editorial trás à tona sua posição quanto ao cinema e suas exibições. Retrata um episódio em que Guaratinguetá permitia que na porta da Igreja Matriz da cidade fossem expostos os cartazes dos filmes, para que os pais ficassem atentos e estivesse por dentro para permitir ou não a ida dos filhos ao cinema. A grande questão é que, o editorial questiona o porquê de não se fazer isso aqui na terra de Lobato também. Pede ajuda ao rádio, jornais, as instituições de ensino que divulguem os filmes, para que evitem que seus filhos vejam os que moralmente influenciariam em atos de violência, irresponsabilidade e “maculasse a inocência por cenas indecentes” (O Diferente, p.02).

 

[…] a aceleração de muitas transformações ocorridas no pós-guerra, de forma direta e indireta, ainda ressoa em nossos dias. É o caso da filosofia existencialista francesa, do movimento dos poetas e escritores da chamada geração beat e o surgimento do rock‟n‟roll americano. No plano político, a Revolução Cubana propagou idéias e atitudes de revolucionários, em especial Che Guevara, na juventude estudantil de todo o Ocidente (CARMO, 2003, p. 11).

 

Cartaz do filme “O Direito de Nascer”

Essa questão, como bem diz Carmo no livro Culturas da Rebeldia – A juventude em Questão, toda a sociedade sofre o impacto causado pela Segunda Guerra Mundial, e o cinema que faz parte do imaginário coletivo de muitos indivíduos, sofreu várias modificações por essas novas formas de abordagem, os questionamentos e críticas ao modelo social vigente, ficaram mais explícitos e com isso vários campos de discussões sociais foram ampliados, tal como a violência, a rebeldia e a sexualidade, antes vistas como um tabu.

E Taubaté inserida nesse fluxo de transformações e ao mesmo tempo manutenção da ordem vigente, o famoso “modernizar conservando” viveu conflitos ideológicos, mas é claro, não tão intensos como nas capitais do país, por se tratar de uma região posicionada no interior, fator que permitiu a manutenção, até hoje, de muitas tradições.

É interessante destacar outros filmes, como anuncia o Jornal A Tribuna, que ficaram em cartaz na cidade, como: O Direito de Nascer, A Cabana do Pecado, O Moinho de Pó. Enfatizando que, nem todos tinham a conotação de “inimigas” da construção familiar, ou da educação dos jovens, mas os que tinham essa “conotação e eram exibidos” causavam burburinhos na cidade.

 

 

Bibliografia:

CARMO, Paulo Sérgio do. Os anos 50: os anos dourados. In: Culturas da rebeldia: a juventude em questão. 2.ª Ed. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2003.pp. 17-39.

KONDER, Leandro. História dos Intelectuais nos anos cinqüenta In: FREITAS, Marcos Cesar de. (org.). Historiografia Brasileira em Perspectiva. 6.ª Ed.. 1.ª Reimpressão. São Paulo: Contexto, 2007. p. 355-374

NUNES. Giovanna Louise. Escola e Cidades: as origens do Ginásio Taubateano na década de 1950. Taubaté/ UNITAU. Monografia de conclusão de curso, 2011.

 

Fontes:

Jornais: A Tribuna

O Diferente

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