OPINIÃO: A sabatina da cultura de Taubaté – por Djalma Castro

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Candidatos reunidos na sabatina Repensando Taubaté – Cultura, realizada no dia 24 de setembro, na sede da OAB-Taubaté.

Escreveu Djalma Castro

 

Os quatro prefeituráveis de 2012 são competentes políticos nesta eleição em Taubaté. Opadre Afonso Lobato é deputado de crescentes votações e pessoa com livre trânsito nos órgãos estaduais e formação teológica; Ortiz Junior é jovem liderança que veio para ficar no Vale do Paraíba pelo talento na arte de dialogar e singular raiz familiar; Mário Ortiz com a experiência acumulada sabe conduzir o processo administrativo com competência

Padre Afonso Lobato (PV), foi o primeiro candidato a responder às perguntas na sabatina.

formatando propostas equilibrantes e o sindicalista Isaac do Carmo é a surpresa desta campanha pelo discurso coerente e de persuasão bem diferente do PT raivoso. Eles estiveram no auditório da OAB (rua Quatro de Março) nesta última segunda-feira do mês de setembro em sabatina conduzida por Francine Maia de presença impecável no controle do vespertino encontro que abordou as artes e mazelas do processo cultural de Taubaté. Apesar dos candidatos ao cargo de prefeito da cidade não apresentarem nenhuma meta no futuro governo e apenas pincelarem o atual cenário sem o aprofundamento possível, demonstraram interesse em gerir o pequeno orçamento cultural com mais “pegada” em relação ao desestimulante período do governo de Roberto Peixoto (atormentado pelas crises que não soube ou não conseguiu controlar). Os prefeituráveis foram sabatinados por perguntas de internautas acionados pelo site “Almanaque Urupês” – bastião da memória taubateana – alem da transmissão ao vivo e on-line. O encontro foi positivo e até mesmo o candidato do marxista PSOL (leia-se o estatuto), Jenis de Andrade, teve postura à altura do tema.

Candidato Ortiz Júnior (PSDB), o segundo dos sabatinados a responder às perguntas.

Esperava-se mais das respostas dos homens que podem alavancar o processo cultural da terra de Lobato. Se algumas abordagens não cabiam pela insignificância do enfoque, como por exemplos a calha furada em um dos museus públicos (caso menor de gerencia) ou insuficiências de conhecimentos dos programas nacional e estadual de apoiamentos às iniciativas culturais, na verdade sobraram aspirações de cuidar melhor do universo taubateano neste setor esquecido e de ação menos contundente.

O grande tema da constituição, por exemplo, de uma Fundação Municipal não foi lembrado. Quem sabe pelo temor da fase eleitoral, quando se busca “enxugar” contratos trabalhistas sem, contudo, assumir compromissos com a agilidade funcional dos tempos atuais. A Fundação bem avaliada pela Promotoria Pública na legislação pertinente, supervisionaria os gastos e objetivos sem o vicio de aparelhamento político, mas com a destreza da mecânica de ação sem as travas da burocracia. Destarte, outros referenciais foram esquecidos.

Jenis Andrade (PSOL), foi o terceiro candidato a responder às perguntas da sabatina

É o caso da Semana Nacional de Monteiro Lobato (de limitado patrocínio oficial) que na época do conteúdo imprimido pelo pioneiro Oswaldo Barbosa Guisard – e o seu fiel escudeiro Guido de Moura Salles – a semana pode ser qualificada como o contraponto aos atuais piqueniques culturais promovidos em Paraty, Gramado e Paulínia (no caso da sétima arte). Guisard abria a semana lobatiana com conferencias nas dimensões das presenças do presidente da Petrobrás ou de Alceu Amoroso Lima. Sobre Tristão de Ataíde (seu pseudônimo) que refletia o pensamento católico da época, o jornalista Guisard me relatou a deliciosa (para os tempos atuais) estória do bilhete do então bispo dom Francisco Borja do Amaral que meia hora antes do inicio da abertura da “semana” fez chegar às mãos do orador a recomendação de não falar de Lobato. Eram os idos dos anos cinqüenta quando ainda a fama de comunista acompanhava o genial criador da literatura infantil brasileira. Em vão porque o bilhete amassado na cesta de lixo (e capturado pelo sagaz jornalista) não afetou o animo de Alceu Amoroso Lima que já se preparava para deixar o quarto do hotel (ainda hoje existente, mas rotativo), cuja porta de acesso é pela rua Cel. Jordão e caminhou a passos largos ao prédio da então Câmara no casarão demolido da esquina da rua Pedro Costa e que deu lugar a unidade do Banco do Brasil. Tudo muito perto na Taubaté de antanho, mas muito longe na memória hermética do passado.

Antônio Mário (PSD) foi o quarto candidato a responder às perguntas da sabatina

Voltando ao hoje, a Semana de Lobato deve buscar o referencial no calendário dos eventos do Brasil moderno. Deve ser substituído o pensar miúdo da nossa gente e retomar o élan de bandeirantismo para agigantar o evento no panorama nacional. Qual cidade não desejaria ter um tema tão virtuoso?.

De outro giro, nesta sabatina os candidatos se esqueceram, salvo Mario Ortiz – citando de passagem – do formidável patrimônio histórico a se desmanchar pela ação do tempo, dos casarões seculares das sedes de onze fazendas como Fortaleza (única restaurada e pela iniciativa privada), Cataguá (hoje Apae), Bonfim, Barreiro, Santa Leonor e outras “plantation”. O descuido dos nossos lideres mirins (poucos prefeitos com visão futurista) permitiram demolições dos casarões urbanos da vila-mãe da região norte paulista. Na atualidade e sem a força da persuasão nata dos autênticos homens públicos, os tombamentos dos onze prédios das fazendas cafeeiras tornam desarticuladas as ações futuras da indústria sem chaminés – que é o turismo histórico – que posiciona no mesmo patamar os castelos medievais do interior da França, as Quintas portuguesas e as fazendas taubateanas que no ano de 1.900 produziram a maior safra nacional, inclusive para exportação do chamado “ouro verde”. Falta a grandeza de preservar o que ainda resta do século XIX. Pobres de nós ainda vivos que não estamos sabendo conservar o valor da história. O turismo religioso em Aparecida (40 mil leitos hoteleiros), Guaratinguetá (São Galvão, o primeiro santo brasileiro) e Cachoeira Paulista (Canção Nova), têm elo com os onze casarões rurais do ciclo do café. Meu Deus, como nós em Taubaté pensamos amiudados… O governo estadual do Rio de Janeiro já preservou nove fazendas de café, quando somente na terra de Lobato existem onze! O ouro do turismo histórico está virando pó. Taubaté no século XIX foi mais povoada na zona rural e menos no vilarejo já desfigurado e que resta apenas parcos endereços marcantes como a quase destruída Villa Aleixo ou a capela das Casas Pias apenas citando o que se busca preservar no momento.

Isaac do Carmo (PT), foi o último candidato a responder às perguntas da sabatina.

Também ao futuro prefeito cabe revitalizar o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural e a sugestão que se faz é preencher as funções com os homens e mulheres bem intencionados do movimento Preserva Taubaté e outros que estão avulsos na luta contra as trevas da pseuda cultura. Diferentemente do som das transitórias baladas e no desfalecimento da fugaz geração pop, estão centradas as raízes culturais no refugio do folclore, das tradições e na memória dos bons costumes pelas pessoas com a sensibilidade do plantio de rosas de todos os matizes no esterco social da atualidade. O que vai ficar nesta transposição para a Nova Era não são os lobistas do mercado imobiliário e nem os políticos de$preparados, mas as certezas daqueles que buscam conservar o respeito que qualifica o interior brasileiro a ser a base da memória verde-amarela nesta provável nova civilização que busca única bandeira, um só padrão monetário e a paz a ser conquistada pelo apaziguamento das religiões. Nunca é demais pensar no futuro, corrigindo as ações do passado, pela interação atual de conscientizar o homem comum no justo e perfeito.

O encontro desta semana no auditório da OAB é a proposta que o Almanaque Urupês direcionou para o universo virtual na certeza de causar ebulição da herança social do conjunto de manifestações humanas pelos conhecimentos e práticas transmitidas aos contemporâneos e ás gerações vindouras. Resolvendo os nossos problemas comunitários pelos projetos voltados ao bem comum, a gestão pública é o mecanismo aguardado para adequar aspirações daqueles que pensam em melhorias no campo cultural. Explica a filosofia que “o homem não só recebe a cultura dos antepassados como também cria elementos que a renovam”. Assim, o próximo prefeito eleito deve ter o dinamismo de acelerar o processo de alargar o processo.

Na verdade o legado de Paulo Camilher Florençano, professora Maria Morgado de Abreu e jornalista Oswaldo Barbosa Guisard deve ser preservado linha por linha e esculpido o formato da nossa cultura. Seja quem venha a ser eleito será no dia 22 de novembro próximo o encontro definitivo das forças vivas da cidade com o ungido pelo povo. Com maior tranqüilidade o compromisso dos quatro anos (ou oito) do novo chefe do Executivo será versado pela disponibilidade financeira do município adestrado a(s) escolha(s) de quem será (ão) o (s) agente(s) que dará (ão) o norte daquilo que inexiste: a organização cultural da terra de Monteiro Lobato.

 

Em 25 de setembro de 2.012.

 

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