A participação dos Guisard na política taubateana.
Os Guisard na política
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A mezzo-soprano do Vale
A pedido do Almanaque, Mere Oliveira relembra sua carreira e o período de apresentações no Teatro de São Paulo
Texto de Mere Oliveira
Último dia da temporada e a minha mente fervilha. Lembro-me do dia da audição em 2013, depois de tantos anos de estudo e experiências pude, enfim, “audicionar” oficialmente para o elenco de solistas do Teatro que já me inspirou tanto. Mesmo sendo consciente das minhas capacidades, naquele dia eu era emoção em estado líquido, havia me preparado com afinco, selecionado os papéis para os quais eu me candidataria, e éramos mais de 400 cantores líricos, subindo ao palco de São Paulo um após o outro, para sermos avaliados pelo Diretor Artístico do Teatro, bem como pelos Maestros assistentes, quatro ao todo, mais ninguém. Entrar pela porta dos artistas e subir ao camarim parecia sonho, e era! Eu que nunca sonhei muito, e sempre digo que mais importante que sonhar é o fazer, me senti sonhando. Vitor Philomeno, meu voice-coach, um dos melhores, me acompanharia ao piano, ciente da minha emoção, era pura alegria. Em 30 minutos, o assistente de palco me chamou: “Mere Oliveira, é a sua vez”. Coração aos pulos. Desci as escadas, saí na coxia, sentei-me até que o cantor que estava se apresentando saísse, disse mentalmente o salmo 23, já que o faço a vida toda. Entrei. A visão é linda a partir do palco!!!!!!!! Primeiro cantei uma cena de ópera de Richard Wagner, ao final me pareceu ver alguns rostos sorrindo dentre os 4 sentados no corredor central, exatamente no meio da plateia. “Você poderia cantar a Lola, por gentileza?” Claro! Cantei. Outro sorriso e um “Muito obrigado”. Agradeci. Saí do palco, e então, eu sorri. Sabia que havia feito um bom trabalho. Um mês depois recebi a notícia: estava na temporada 2013 do Teatro Municipal de São Paulo. Esqueci que estava em público, gritei!
Um misto de alegria e preocupação inundaram minha mente no dia do primeiro ensaio. A cúpula, onde começam os ensaios, é um lugar mágico. Daquele que é o ponto mais alto da construção, saem lindas cenas, música sublime, primordiais para introjetar personagens de qualquer natureza. Enquanto isso, nas oficinas de caracterização, materiais se transformam em personificações de seres tão humanos quanto míticos, belos ou assustadores, bons e maus, alegres e tristes, é a mágica da arte!
Como você pode ver, me encanto com esses profissionais que nos ajudam a construir os personagens que cantaremos, eles são essenciais para o trabalhador da arte, e a ópera, ah! A ópera é a forma artística por excelência, nela se vêem retratadas na maioria das vezes, todas as outras formas de arte, veja só: a música, a dramatização, as artes plásticas, a dança e inclusive suas versões tecnológicas. Cantei 30 récitas do papel título da ópera francesa “Carmen”, entre outras, Norma, Gioconda, Gianni Scchichi, repertório sinfônico, música de câmara, muita música brasileira, e a Lola, a mezzo-soprano da Cavalleria Rusticana é relativamente curta, mas se fala dela desde a primeira frase da ópera, e essa montagem deu á personagem ainda mais importância, o quê fez a atriz que vive em mim, se entusiasmar ainda mais. Cena de amor, de ironia, de medo, tudo isso em tão pouco tempo. Eu adoro. Ser dirigida por grandes Maestros e Diretores de Cena, compartilhar a cena com pessoas de talento estupendo como a italiana Elena lo Forte, e ter do público o aplauso, o carinho e reconhecimento, motivadores da minha continuidade. Voltei em 2014 para a mesma montagem.
Olho para trás e descubro que todas as dificuldades me fizeram bem, e eu posso sentir a alegria da conquista com liberdade.
A carreira segue,e em todos esses anos as dezenas de orquestras com que cantei, os Maestros, Diretores e Produção, deixaram lições preciosas e marcas indeléveis não só na carreira, mas no meu coração, e a grande lição é que sempre posso ser melhor, e aprender mais, basta estar disposta.
Decidi compartilhar as experiências e os estudos que tive, e por isso, há alguns meses inauguramos um Ópera Studio na Musicorum em Taubaté para que os nossos estudantes de canto tenham oportunidade de atuar em cena sem precisar se mudar da nossa região, e teremos uma Carmen pocket em dezembro no Teatro da Fatea para comemorar a arte e a vida.
Em 2015 há coisas lindas por acontecer, mas só posso dizer algumas, como, por exemplo, a nova turnê alemã com o Duo Cappuccino, com o meu amigo André Simão, mas também terei óperas, gravações e concertos. As vitórias só mostram que essa garotinha que nasceu no bairro da Independência, filha de um João amoroso e uma Cida brava, aprendeu com eles a olhar a vida nos olhos para enxergar o caminho por onde deve seguir, com medo ou não, mas com a certeza de estar no rumo certo.
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Dona Maria Uberty
Texto de Renato Teixeira
*imagem Rua Conselheiro Moreira de Barros, mais conhecida como Rua das Palmeiras (acervo Mistau)
Publicado no Jornal Contato edição 677
Grandes senhoras são uma espécie de patrimônio cultural inalienável, intransferível e fundamental. Em qualquer parte do planeta são elas as referências mais significativas. Dona Bety, de sorriso claro e sincero, sempre inspirou confiança e determinação, nos meus tempos de menino.
Taubaté, dos anos sessenta, era um lugar pacato e com uma vida social bastante interessante; promovíamos pequenos bailes residenciais que criavam expectativas amorosas, gozação entre a rapaziada imberbe, fofocas graciosas das garotas e olhares, digamos… “atenciosos”, dos pais.
Vivíamos, é verdade, um tempo de profundos questionamentos familiares, capazes de romper laços em nome de ideologias políticas e posicionamentos filosóficos. Era importante que nossos jovens pais fossem menos repressores, mais participativos porque, por mais que negassem, sabiam, lá no fundo, que os novos tempos acabavam a chegar. Nossas cabeças juvenis ferviam intensamente. Sonhávamos acordados.
Na minha casa, as festas eram no terraço. Na casa de dona Bety, mãe de Leda e Hodges, eram na sala de visitas. Éramos vizinhos. Incrível o bom astral e a qualidade humana da rapaziada “desencaretada”, capaz de loucas ousadias que às vezes resultavam em punições exemplares por deslizes comportamentais dentro do ambiente social, até as mais contundentes, aquelas de caráter
político, que obrigava alguns amigos, ideologicamente contra a ditadura militar, a andarem com passaporte e uma passagem pro exterior no bolso da calça.
Depois piorou; um dos mais belos e talentosos “bons partidos” de então, editor chefe do jornal Contato, Paulo de Tarso, foi pra guerra e, quando voltou, nossa tribo já havia debandando pela vida afora. Mas nunca rompemos os elos. Temos as mesmas referências.
Uma das coisas mais significativas que trago desse tempo, foi a honestidade de senhoras, como dona Bety, que, sem abdicar de seus pensares levemente conservadores, abriram as portas de suas casas para que pudéssemos dançar e sonhar. Bom ter essas lembranças.
Desejo, aqui dos meus quase setenta anos, que a moçada de agora repare na dignidade de certas senhoras que nos cercam e que nunca perdem o fio da meada. Mulheres bem sucedidas. Santas mulheres. Um beijo querida amiga… Bety.
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