Em 2012 o Almanaque Urupês completará 10 anos de atividades.
Marcaremos essa data com uma série de produções ao longo de todo ano. Fique atento.
O meu amigo Pedro Rubim me pediu para que eu dissesse a vocês o que ando curtindo de Música e Arte em geral ultimamente.
Bem, sou daqueles que não troca o trio sofá-ventilador-televisão por nada nos meus momentos de relax e foi dessa maneira que conheci o canal Arte1.
É muito bacana assistir à biografias de gente como Thelonious Monk, Charlie Parker, Billie Holiday e Rolling Stones, além de ter contato com matérias e entrevistas sobre artistas de outras áreas da Arte que não a Música, como as Artes Plásticas, Cinema, Literatura, Teatro, etc.
No entanto, o que mais tem me agradado são os concertos de música clássica. Pra mim tem sido enriquecedor ouvir pela primeira vez certas obras de Brahms, Tchaikovsky e Mozart como se tivessem sido compostas esse ano.
No gênero da canção, essa curiosa somatória de poesia e música, tenho curtido mesmo, de forma muito particular e até suspeita, os versos dos meus parceiros Dirceu Setti, Afonso de Medeiros e Teteco dos Anjos, quando falam de coisas de Taubaté e de nossa região.
Respectivamente, gosto como o Dirceu fala dos nossos caminhos na canção que compusemos “Pudera” e que diz assim:
“Pudera, voltar na madrugada/ Pegar de noite a estrada com muita fé/ Beleza, mais pura cavalgada/ de Redenção da Serra até Taubaté.”
Também adoro os versos de Afonso de Medeiros da nossa canção “São Luiz do Paraitinga” quando diz:
“E na grandeza da tristeza, conformada em ser feliz/ Dorme tranqüilo, meu pequenino e santo São Luiz.”
E acho interessante e inusitada a forma com que Teteco dos Anjos encontrou de citar Taubaté na letra da nossa canção “Cantautores de Ilhona” dizendo:
“Eu sou preto, branco, índio/ alienígena qualquer/ Aborígine da tribo do Bloco do ´Vai Quem Quer´.”
Então, suspeitas ou não, ficam aí as minhas dicas: para quem quiser curtir documentários, entrevistas, música clássica e artes em geral, assistir ao canal Arte 1.
E para quem quiser conhecer os versos acima citados transformados em canções, ouvir os CDs “Pop Gran Circo Afro-Brasil” dos Cantautores de Ilhona e “Lado A Lado B” de Toninho Mattos, esse que vos fala.
Feliz Natal e um Próspero Ano Novo a todos!
Por Cesídio Ambrogi
Monteiro lobato estava doente. E a notícia, na velocidade de um relâmpago, correu o mundo, provocando mesmo um certo pânico. E de todas as partes, do país e do continente, como do estrangeiro, choveram mensagens ao escritor ilustre, desejando-lhe, rápidas melhoras. E Lobato reagiu. Está de novo em forma. De novo, ei-lo a receber, em São Paulo, a visita de seus amigos diletos, e a responder, comovido, às dezenas de milhares de cartas que lhe enviaram as crianças patrícias.
Uma criança taubateana endereçou-lhe as seguintes palavras de comovedora simplicidade e de profundo encantamento.
“Dr. Lobato:
Mamãe, hoje, leu p’ra mim ouvir, num jornal qualquer, uma notícia muito triste a seu respeito. A notícia dizia assim:
“O eminente escritor brasileiro Monteiro Lobato encontra-se gravemente enfermo, em S. Paulo. Seus médicos assistentes temem um desenlace fatal, proibiram qualquer visita ao insigne estilista.”
Chorei Dr. Lobato. Chorei e fui resar: pedi a Deus que o salvasse, explicando a Nosso Senhor que as crianças brasileiras não poderiam viver sem o seu grande amigo que é o senhor. E Deus me ouviu. Estou de novo contente.”
A Voz do Vale. Domingo, 13 de junho de 1948
A morte de Monteiro Lobato
Assistimos, em S. Paulo, ao sepultamento de Monteiro Lobato. E mais do que isso, mais do que as solenidades características do ritual, vimos, emocionado, uma esplêndida consagração ao morto ilustre. A cidade vestiu-se de preto e alma do povo envolveu-se em trevas para que houvesse, assim, maior realce naquela magnifica apoteose de luz com que S. Paulo, compungido, acompanhou o cadáver do mais consagrado dos nossos escritores até à sua derradeira morada.
Antes, durante o velório, o povo desfilou chorando diante do seu esquife. Gente da alta e da baixa. De todas as categorias sociais. De todos os credos políticos e religiosos. Operários. Magnatas da indústria. Intelectuais e estudantes. Damas ilustres. Mulheres humildes. Grãfinos. Gente da rua. Mendigos. Crianças. Crianças, sobretudo. E cenas de profunda emoção se repetiam. Lamentos. Lágrimas. Soluços surdos e abafados. Nunca escritor nenhum em nosso país teve, depois de morto, maior e mais comovedora manifestação de carinho do que Monteiro Lobato, o mais ilustre taubateano de todos os tempos.
Resta, agora, a Taubaté, prestar-lhe a memória uma grande e condigna homenagem. E esta se fará, estamos certos. Porque Lobato bem que a merece.
A Voz do Vale. Terça-feira, 13 de julho de 1948
“Casa Monteiro Lobato”
Monteiro Lobato nasceu nesta cidade, num velho casarão da tradicional da Chácara do Visconde. Ali passou, despreocupado e feliz, os seus melhores anos casemirianos, “pés descalços, camisa aberta ao peito, braços nús”, caçando passarinhos, correndo no encalço das borboletas, deliciando-se com as mangas, chupando maracujas. E sonhando. Sonhando, sobretudo.
O prédio ainda lá está, reformando é certo, mas conservando ainda as suas inconfundíveis características. Segundo se propala, porém, seu atual proprietário, capitalista residente na capital do país, está no firme propósito de transformar a linda casa que serviu de berço ao mais ilustre dos escritores brasileiros da atualidade num hotel…
Antes da morte do notável taubateano, nada se teria a opor, naturalmente, a idéia daquele senhor. Mas agora que Monteiro Lobato já não vive, seria de estarrecer se tal empreendimento fosse levado a efeito.
Os poderes públicos do município, e mesmo do Estado, estão no dever de evitar essa coisa que uma vez realizada abalará profundamente a alma romântica do povo taubateano. A exemplo do que se faz com a casa em que, em S. Luiz do Paraitinga, nasceu Oswaldo Cruz, a casa em que, em Taubaté, nasceu Monteiro Lobato, deve ser adquirida. E que se instale, depois, na “Casa Monteiro Lobato”, um museu que lembre o notável escritor falecido.
A Voz do Vale. Quinta-feira, 15 de julho de 1948
Lobato Sentimental
Monteiro Lobato foi, no fundo um grande sentimental. Seu coração sensível e sua alma delicadíssima se comoviam ante as coisas mais simples: o sorriso de uma criança, o vôo de um pássaro, uma velha ponte, uma árvore florida, uma paisagem, qualquer coisa, enfim, lhe despertava profundas emoções.
E sentia, sobretudo, um ascendrado amor pelo Brasil, principalmente quando o acaso o punha para além de suas fronteiras.
Veja-se, por exemplo, este trecho de uma carta sua escrita do exílio:
“Ando pensando em levantar acampamento, e eu vou para o Peru ou para… o Brasil! Sinto-me muito isolado aqui, e com saudades dos amigos. Que resta a um velho senão os amigos? Também sinto saudades das mangas e jaboticabas. Isto aqui é terra de frutas- mas faltam justamente as minhas prediletas.
Meu sonho hoje não é o prêmio Nobel- mas uma mangueira que há na fazenda do Chapadão em Campinas, que dá as melhores mangas do mundo. Não sei que nome tem. Só sei que é coisa que derrota as ambrósias dos deuses; basta lembrar-me delas, e todas as glândulas do paladar me abrem como comportas de um dique holandês”.
Haverá maior prova de amor e carinho pela nossa gente e pelas nossas coisas?
A Voz do Vale. Domingo, 1o de agosto de 1948
Onde nasceu Lobato
Entre os que se interessaram pela aquisição, por parte dos poderes públicos, da casa em que teria nascido nesta cidade, o saudoso escritor Monteiro Lobato, surgiram algumas controvérsias: enquanto uns diziam que ela teria sido a que ainda hoje existe na velha Chácara do Visconde, outros afirmavam que lhe servira de berço o prédio que se situa atrás do jardim público, agora já demolido em parte.
Tais dúvidas, entretanto, acabam de ser dissipadas. Em carta escrita a Cesidio Ambrogi, a senhora Purezinha Monteiro Lobato, ilustre viúva do escritor, consultada, declarou o seguinte:
“Quanto a afirmações sobre a casa exata em que nasceu Lobato, posso afirmar que é a existente na Chácara do Visconde e isso por tê-lo ouvido dizer em diversas ocasiões.
A sua infância foi repartida entre a casa atrás do jardim público e as fazendas “Paraíso” e “Santa Maria”, nas proximidades de Tremembé”.
É preciso agora que não se “durma” sobre o túmulo daquele que foi o maior escritor brasileiro desta primeira metade do século e o maior e mais ilustre taubateano de todos os tempos. Urge a compra imediata do prédio citado para a fundação da “Casa de Lobato”. Taubaté precisa tornar-se com relação a Lobato no que São José do Rio Pardo se tornou em relação a Euclides da Cunha.
E nota-se que aquela cidade não foi mais que um mero “acidente” na vida do estilista de “Os Sertões”.
A Voz do Vale. Sexta-feira, 10 de setembro de 1948
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